Startup revoluciona entrega de encomendas em favelas cariocas e prevê faturar R$ 1,6 milhão


Nascida na Rocinha, nos anos 2000, a Carteiro Amigo Express ganhou novo fôlego para crescimento após passar por acelerações Fundada há 24 anos na Rocinha – a segunda maior favela brasileira, segundo o Censo 2022 –, a Carteiro Amigo Express é uma logtech que vem transformando a realidade das comunidades do Rio de Janeiro. Criada para atender a necessidade de um serviço de entrega eficiente na região, onde atualmente residem mais de 72 mil pessoas, a startup recebeu os primeiros aportes apenas há dois anos. A injeção financeira elevou o perfil da empresa, que espera um faturamento de R$ 1,6 milhão neste ano.
A CAE foi fundada por três dos cinco atuais sócios: Carlos Pedro, Silas Vieira e Elaine Silva, todos licenciadores do Censo de 2000, que visitaram as casas naquele ano. Enquanto realizavam a pesquisa, identificaram a dificuldade de os residentes receberem encomendas e correspondências, já que as moradias não possuíam CEP. Viram ali a chance de empreender.
Até hoje, grandes transportadoras e os próprios Correios têm barreiras logísticas para realizar entregas. “A ideia inicial era oferecer um serviço acessível e eficiente, que custasse pouco para o morador, aproveitando o conhecimento local dos próprios residentes, gerando distribuição de renda e empregabilidade”, diz o sócio e CEO Pedrinho Jr., que está à frente da CAE, ao lado de Thiago Monsores, o quinto integrante da sociedade.
No início, a empresa contava com uma pequena loja e um único funcionário. As entregas eram feitas a pé ou de bicicleta, e o foco principal eram correspondências, já que o e-commerce ainda não tinha a força de hoje.
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Durante a pandemia, a demanda por encomendas cresceu significativamente, e a Carteiro Amigo precisou se adaptar. “As cartas diminuíram 80%, mas vimos um aumento de 100% no número de pacotes”, diz Pedrinho Jr.
A expansão da startup foi gradual e não planejada até 2020. Inicialmente, a empresa consolidou sua presença na Rocinha antes de se expandir para outras favelas do Rio de Janeiro, como Rio das Pedras e Cidade de Deus.
Com o capital de R$ 500 mil obtido do edital da Faperj (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) durante a pandemia, foi feito investimento em infraestrutura e logística, permitindo um crescimento sustentável a partir de 2022.
Hoje, a Carteiro Amigo Express opera com uma frota de veículos elétricos e à combustão, incluindo bicicletas e tuk-tuks, com 40% das entregas sendo realizadas por modais mais sustentáveis. Inclusive, a startup desenvolveu uma solução de envios para todo o Brasil em parceria com a Mandar e a Jadlog, facilitando o acesso a mais de 4 mil pontos de entrega pelo país.
CEP social
Um dos maiores desafios enfrentados pela Carteiro Amigo continua sendo a falta de CEP nas residências, o que dificulta a identificação e o acesso aos serviços básicos. Para resolver esse problema, a empresa está desenvolvendo um projeto para adoção da tecnologia do Google Plus Codes a fim de mapear as residências e gerar CEPs sociais aos moradores da Rocinha, a primeira comunidade a ser beneficiada.
Apesar disso, a entrega de cartas, cartões de crédito e encomendas variadas, com limitações relacionadas ao tamanho e peso das encomendas, sempre encontra seus destinatários. Entre os itens mais comuns estão roupas, tênis e eletrônicos. Os moradores podem retirar suas encomendas em uma das unidades ou agendar a entrega por meio do SAC, funcionando como uma agência comunitária similar aos Correios.
“Este serviço funciona como um verdadeiro porteiro da favela. Hoje, podemos dizer que entregamos de tudo para todos, focando sempre em atender às necessidades dos nossos assinantes, independentemente de termos contratos específicos com marcas”, observa Monsores, CMO e CPO da startup.
Só na Rocinha, são mais de 2 mil clientes cadastrados, sendo mais de 600 ativos e recorrentes, que pagam mensalidades regulares – os valores variam de R$ 14 a 33 por mês, e a média é de R$ 22 por assinatura.
Aportes e investimentos
No ano passado, a Carteiro Amigo recebeu o aporte de R$ 500 mil da Vai Fácil, permitindo a expansão da operação e melhoria da infraestrutura. Com essa parceria, a empresa montou três microbases nas favelas e dez galpões no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo, atendendo mais de 15 comunidades e 45 bairros. Com as melhorias, a CAE fechou 2023 com faturamento de R$ 500 mil.
Neste ano, a logtech obteve um investimento de R$ 1 milhão dos Shark Tank, acelerando ainda mais o crescimento. Com planos de expansão para São Paulo e Belo Horizonte em 2025, os sócios pretendem lançar um aplicativo (batizado de Amigo) que permitirá aos moradores contratar serviços de envio, retirada e entrega, além de participar de promoções exclusivas.
“Estamos empenhados em aumentar significativamente nosso volume de pacotes e nos tornar uma das primeiras empresas originárias de favelas a alcançar o status de unicórnio nos próximos cinco anos”, afirma Monsores.
Cunho social
A adoção de políticas de ESG faz parte da rotina, com a realização de ações sociais dentro das favelas, como isenção de certidão de casamento e doação de cestas básicas.
A empresa também está investindo na formação de motoristas locais e na adoção de uma frota eletrificada. “Desenvolvemos um projeto para ajudar muitos jovens a tirar suas carteiras de motorista”, conta Pedrinho Jr. “Isso proporciona oportunidade de emprego e evita que eles ingressem na criminalidade”, explica.
A maioria dos entregadores, aliás, reside nas comunidades atendidas, o que garante o conhecimento detalhado das regiões e a maior eficiência no fluxo de trabalho.
Com mais de 30 colaboradores e uma média de 600 entregas por dia em todas as bases, a Carteiro Amigo Express espera faturar R$ 1,6 milhão em 2024. A empresa continua a fortalecer sua rede logística e ampliar sua capacidade de atendimento, visando triplicar o número de pacotes entregues em 2025.

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