Síndrome do Esgotamento Profissional – Burnout
Este conteúdo foi produzido por
Sara Dias
A natureza do trabalho no terceiro setor é repleta de entrega, doação e empenho. Normalmente, quem está envolvido com a causa social, tem a tendência de colocar muito de si em cada ação, a doar atenção, energia, olhos atentos e escuta. Quem escolhe ou é escolhido por essa área, não imagina que em meio a tão boas intenções a jornada pode se tornar pesada demais e culminar em um esgotamento por completo.
Foi assim comigo em 2017 e tem sido assim com pessoas conhecidas. O adoecimento físico, emocional e mental também chega para quem está fazendo o bem.
Dentre tantas mazelas emergidas nas últimas décadas, principalmente em relação às práticas laborais, a Síndrome de Burnout tem sido uma das que provocam maiores prejuízos, pois leva a pessoa a uma perda total da capacidade de continuar trabalhando.
De acordo com pesquisas realizadas pelo International Stress Management Association (Isma-BR), profissionais da área da educação e da saúde, que estão diariamente em contato intenso e contínuo com o público atendido, são os mais acometidos.
Em suas primeiras definições, feitas pelo psicanalista norte-americano Freudenberger em 1974, burnout
caracterizava-se como um “incêndio interno” ou “aquilo que deixou de funcionar por exaustão de energia”. Mais tarde, a partir de 1976, a Psicóloga Social Christina Malash relaciona esta síndrome diretamente ao ambiente de trabalho e atribui três fatores multidimensionais ao seu aparecimento:
. Exaustão emocional (esgotamento físico e mental)
. Despersonalização (frieza, indiferença e impessoalidade com o atendido)
. Baixa realização pessoal no trabalho (baixa autoestima)
Hoje o Burnout é definido pedo CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde) como estresse crônico no local de trabalho.
A Síndrome de Burnout não aparece de um dia para o outro, não é um colapso inesperado. Ela, na verdade, é desencadeada por períodos longos e crônicos de estresse, somados à falta de percepção e atitudes da estrutura organizacional para se contornar a situação conflitiva e oferecer medidas para o restabelecimento da saúde do indivíduo.
Em seu quadro evolutivo, a pessoa começa a sentir falta de vontade, ânimo ou prazer de ir trabalhar. Juntamente com isso, pode sentir dores nas costas, pescoço e coluna, irritabilidade, alterações de humor, dificuldade de concentração, insônia e etc.
Sentimentos como angústia, impotência, insegurança, despreparo frente ao trabalho, frustração, dentre outros, também aparecem e vão deixando os dias ainda mais insuportáveis. Ao final, pode-se ocasionar afastamento psiquiátrico, frente às doenças psicossomáticas ou também aumentar a incidência de alcoolismo, drogadição e pensamentos de morte.
Em sua dissertação de mestrado em Administração pela Universidade Estadual de Londrina, Luciane Walichek, pesquisou os fatores associados à Síndrome de Burnout no terceiro setor. A mesma ressalta que, apesar das causas envolverem aspectos emocionais, sociais, organizacionais e familiares, observa-se que organizações em que a gestão ainda não é conscientizada da importância da saúde mental de seus colaboradores e mantém dinâmicas de trabalho sem planejamentos estratégicos e táticos para orientação, organização e direção dos processos, tornam os ambientes ainda mais propícios para que a sensação de insatisfação, esgotamento e frustração se prolifere.
A consequência de não se atentar para o acúmulo de estresse da equipe, e subsequente aparecimento de casos de Burnout, não afetam apenas a pessoa acometida deste adoecimento. Para as organizações, a perda está em problemas com qualidade dos serviços, produtividade, alta rotatividade, diminuição da satisfação profissional, perda de recursos financeiros com novas contratações e, o pior, mal exemplo de gestão retornando para a sociedade. O que é um grande paradoxo com a sua missão.
Em minha experiência com o Burnout, trabalhando em uma entidade do terceiro setor, fui tomada por uma multiplicidade de sintomas psicossomáticos, porém, o que para mim foi mais grave, era a incapacidade que eu sentia de ver sentido em meu trabalho, tudo parecia-me em vão, havia muita irritabilidade, falta de paciência e esgotamento do afeto por aquilo que eu fazia. Precisei me desligar da instituição e dar um bom tempo para retornar ao trabalho.
Hoje, minha maior esperança é de ver o ecossistema do impacto social contornando as estatísticas, encontrando formas de não adoecer, mas sim de gerar grande satisfação nos agentes de mudança. Ações como apoio terapêutico individual ou grupal, capacitações visando o aprendizado e o desenvolvimento de técnicas de relaxamento, assim como, maior reconhecimento e valorização, escuta e conexão com as equipes, podem fazer, e já fazem, muita diferença neste cenário.
Links:
ISMA-BR:
Dissertação LUCIANE DE FÁTIMA WALICHEKI – A relação das características de uma organização do terceiro setor e a Síndrome de Burnout: Um estudo na Escola Profissional e Social do Menor de Londrina. Disponível em: