‘Não vamos fazer o novo iFood’: as barreiras que as deep techs enfrentam para converter ciência em negócios | Startups

“A academia ainda está isolada do mundo. Precisamos de injeção de cultura, ânimo e energia, que legitimariam o professor e os alunos a quererem criar uma startup. Temos que deixar uma mensagem clara de que isso é muito importante para o país”, opina Rochel Lago, diretor e pesquisador do Escalab, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O assunto foi debatido durante o Fórum Sebrae de Inovação 2024, evento que fez parte da programação da 34ª Conferência da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), realizada em São José dos Campos (SP). O painel também contou com a participação de Ana Calçado, da Wylinka; Lucas Lima, do Sebrae for Startups; e Anderson Soares, do Centro de Excelência em Inteligência Artificial (Ceia) da Universidade Federal de Goiás (UFG).

“O Brasil está na 50ª posição de um ranking mundial de inovação. Nós publicamos 2% dos artigos científicos do mundo e estamos entre os 15 países que mais investem em pesquisa e desenvolvimento. Qual é a questão? Temos dificuldade para converter pesquisa em inovação, e um dos aspectos é a qualidade da pesquisa que é feita, vai além do desejo de empreender. Tem de haver viabilidade técnica, econômica e de mercado”, afirma Adriana Ferreira de Faria, presidente da Anprotec.

Lago afirma que não falta empolgação de professores e alunos com o empreendedorismo na universidade, mas há desconhecimento de como empreender. “A tecnologia pode ter maturidade, os modelos de negócios podem estar demonstrados, mas a maioria das startups morre porque eles não sabem colocar na prática, montar uma pequena operação industrial e comercial para gerar ações”, comenta.

No Brasil, o capital ainda está concentrado em startups de software como serviço (SaaS) e B2B, a receita mais comprovada para escalar rapidamente e gerar retorno para os investidores. “Ouvi no Vale do Silício que o investidor brasileiro quer investir pouco e ganhar muito em pouco tempo. As deep techs não são startups digitais, não são aplicativos. Estamos fazendo ciência, não vamos fazer o novo iFood”, opina Lima.

A alternativa mais usada para financiamento pelas deep techs é pleitear aos editais de subvenção econômica realizados por instituições como Finep, Embrapii, Sebrae e as Fundações de Amparo à Pesquisa. Porém, até nesse caso, elas enfrentam barreiras. Soares alerta que é preciso ter mais celeridade. “No Brasil, a gente carrega uma cultura de que a inovação tem data para acontecer. São seis meses para olhar as inscrições, dois anos para liberar os fundos. Com startups, o timing é tudo”, destaca.

Source link