Multiartista indígena empreende com moda, artesanato e turismo: 'Já nascemos com o dom da arte'


We’e’ena Tikuna produz uma linha exclusiva e autoral de roupas e também comanda uma pousada em meio à floresta amazônica “A onça que nada para o outro lado do rio”. Este é o significado do nome de We’e’ena Tikuna, 36 anos, uma multiartista e empreendedora que nasceu na terra indígena Tikuna Umariaçu, no alto do Rio Solimões, no estado do Amazonas. Embora seja formada em artes plásticas, a amazonense reforça que seus conhecimentos artísticos foram adquiridos por meio de sua vivência originária junto ao seu povo. Atualmente, Tikuna tem a moda, o artesanato e o turismo como suas três frentes de negócio.
A empreendedora desenvolve uma coleção autoral e exclusiva de roupas, bonés e bonecas indígenas. Além disso, ao lado do marido, o violonista Anton Carballo, ela comanda a pousada Casa da Árvore Alter, situada em meio à floresta amazônica, na cidade de Santarém (PA). Para além dos empreendimentos, a amazonense também atua como ativista pelos direitos dos povos indígenas, com ênfase em produções de conteúdo sobre o tema em seus perfis nas redes sociais. Apenas no Instagram, ela fala para mais de 880 mil seguidores.
Tikuna diz que os valores que norteiam seus empreendimentos são ancestralidade e tradição, uma vez que aprendeu a utilizar a cultura originária em seus trabalhos a partir da observação de seus mais velhos.
“Nós, indígenas, já nascemos com o dom da arte. A primeira coisa que a gente vê na nossa infância é o nosso povo se pintando e fazendo as próprias vestimentas”, diz, em entrevista a PEGN.
A moda entrou na trajetória de Tikuna ainda na graduação em artes plásticas. Ela passou a confeccionar e vestir suas próprias roupas, com o intuito de enaltecer os grafismos e estampas indígenas. No entanto, foi só em 2019 que ela lançou sua primeira coleção. “Nesse ano eu tive a oportunidade de mostrar as minhas peças em um desfile de passarela. Depois, passei a lançar novas coleções todos os anos, utilizando a arte étnica também como ativismo. Porque a moda, pra mim, também é um ato político”, afirma.
De lá pra cá, Tikuna levou sua assinatura de estilista para eventos como o Brasil Eco Fashion Week 2019 e Fashion Week Osasco. “A arte sempre esteve presente na vida do meu povo, ela que me trouxe a lugares que eu jamais poderia imaginar”, reforça.
Hoje, a empreendedora comercializa seus produtos, feitos de forma artesanal e por demanda, apenas via e-commerce. Em seu site, é possível encontrar bonés estampados com grafismos, bonecas indígenas, brincos, colares, camisetas, calças e vestidos, feitos, sobretudo, com um tecido natural chamado “tururi”.
Com produtos a partir de R$ 79,90, a amazonense explica que, em média, vende 300 peças nos meses de alta temporada (abril, outubro e dezembro). Já no restante do ano, a demanda é de pouco mais de 30 produtos por mês.
As bonecas indígenas são confeccionadas de forma artesanal
Reprodução/Instagram
Tikuna diz que opta por não ter um grande volume de estoque para priorizar uma produção mais ecológica. “Se você quiser um produto do meu site, terá que pedir uma peça por encomenda. Eu trabalho em um estilo sustentável, não quero incentivar o consumismo, quero que as pessoas reflitam sobre o que é comprar de pessoas indígenas. Quero deixar claro que as pessoas não precisam ter um grande volume de roupas, bonés e acessórios”, afirma.
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A aposta na área do turismo foi feita em 2018, quando Tikuna e Carballo adquiriram um pequeno espaço em meio à floresta amazônica, em Santarém, no estado do Pará. Inicialmente, o espaço seria utilizado apenas para fins familiares. No entanto, dada a localização paradisíaca, resolveram criar a Casa da Árvore Alter. O espaço de 200 m² se tornou uma referência em ecoturismo na região, com diárias a partir de R$ 500. Segundo a empreendedora, as reservas estão esgotadas até fevereiro de 2025.
Anton Carballo e We’e’ena Tikuna na Casa da Árvore Alter
Divulgação
“[Esse negócio] foi inspirado em um brincadeira de infância [do meu marido], que desde pequeno construiu e brincou em várias casas na árvore. O projeto foi criado para proporcionar um contato direto com a natureza, respeitando a espiritualidade e o meio ambiente”, diz.
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