Empreendedora de Manaus cria marca de calcinhas e biquínis para pessoas trans | Ideias de negócios
Desde o momento em que passou pela transição de gênero, aos 18 anos, Louise Costa, atualmente com 31, passou a notar que o segmento de moda íntima não produzia peças específicas que pudessem atender, de maneira confortável, aos corpos de pessoas LGBTQIAPN+. Sendo assim, em meio à pandemia de covid-19, em 2021, a moradora de Manaus (AM) criou a Louise Pantie, uma marca de calcinhas e biquínis para pessoas transexuais e travestis.
Ao unir ideias com a mãe, Maria de Nazaré, costureira de longa data, a manauara desenhou como seriam os modelos e as cores dos produtos da loja. Com poucos recursos financeiros disponíveis para investir no pequeno negócio, Costa decidiu vender um de seus itens de coleção: uma boneca Barbie Dulce Maria, personagem emblemática da telenovela mexicana “Rebelde”, que se tornou popular logo no início dos anos 2000. Com os R$ 300 obtidos, Louise comprou os primeiros tecidos e acessórios para a produção.
“Quando eu comecei, lembro que já existiam outras marcas de calcinhas e biquínis para pessoas trans, mas aqui em Manaus não existia. Eu era consumidora, comprava dessas outras marcas, mas [os produtos] sempre tinham problemas para chegar aqui, ou o frete era caro demais. Então eu, como público, passei a prestar atenção nisso. Desde que eu fiz a transição, aos 18 anos, reparei que produtos específicos [para pessoas travestis e transexuais] eram uma necessidade”, explica a empreendedora.
Embora tivesse todo o plano do negócio em mente, Louise conta que a Louise Pantie só saiu do papel quando sua mãe perdeu o emprego como cuidadora de idosos. Devido à necessidade financeira, a rota alternativa foi ingressar, de fato, no campo do empreendedorismo. “A minha mãe já era costureira e tinha todas as máquinas de costura em casa, mas fazia mais como um hobby. Comecei a empreender por achar que seria uma boa alternativa para nós”, diz.
No início, a empreendedora relata que um dos maiores desafios era saber vender os produtos, além de precificá-los corretamente. Porém, a necessidade de ter uma marca que pudesse atingir as mulheres trans e travestis da região Norte do país falou mais alto. Por isso, Costa buscou aprender sozinha sobre como montar o primeiro negócio, além de temas como marketing e contabilidade, a partir de tutoriais no YouTube.
“Eu não tinha nenhuma experiência com vendas, com absolutamente nada, tanto que eu ainda sofro muito por ser tímida. Mas eu sabia que, para conseguir vender, eu ia precisar criar uma conexão com essas meninas, sabe? Elas precisavam saber que quem estava ali por trás da marca era uma outra pessoa trans”, afirma. No dia a dia do negócio, Costa cuida do atendimento às clientes e da logística, enquanto sua mãe assume a costura das peças.
O faturamento da Louise Pantie é de aproximadamente R$ 3 mil por mês. No entanto, em junho de 2024, devido ao Festival Folclórico de Parintins, o valor ultrapassou os R$ 7 mil, devido à demanda por calcinhas, biquínis e maiôs nas cores dos bois-bumbás Caprichoso e Garantido, com a predominância de tons de azul e vermelho. Atualmente, por conta da equipe reduzida, a comercialização acontece apenas sob demanda, em combos de no mínimo cinco peças.
No início de 2023, Costa ingressou no TikTok a fim de popularizar a marca. Mas foi só nos primeiros meses de 2024 que a manauara passou a produzir conteúdos específicos sobre a loja. Com a repercussão dos vídeos, a empreendedora viu as vendas crescerem e ganharem maior projeção. A Louise Pantie hoje atende clientes de outros estados, sobretudo São Paulo (SP) e Salvador (BA), além de países da Europa, como a Itália.
“Comecei a fazer vídeos mostrando as peças, falando quais eram mais confortáveis ou quais eram as melhores para as meninas com silicone. Eu já vendia para outros estados e exportava uma vez ou outra, mas, quando passei a publicar no TikTok, comecei a ter muitas vendas, principalmente para a Europa. Se eu tiver só mil visualizações, eu falo: ‘Nossa, está ótimo. Porque, em algum momento, quem se interessou viu o post e vai querer comprar’”, conta.
Para o futuro, além de passar a vender mais em outras cidades espalhadas em todo território nacional, Costa almeja criar uma comunidade de empreendedoras trans e travestis. O objetivo é estimular que elas explorem novas possibilidades profissionais, superando os estigmas que as excluem do mercado de trabalho tradicional, onde lidam com transfobia e discriminação social.
“A minha mãe tem muitas máquinas, então quero tentar, no futuro, fazer com que outras mulheres trans aprendam a costurar também, para que a gente possa criar uma rede de mulheres que costuram calcinhas. Espero trabalhar não só dentro da minha marca, mas também criar produtos em comunidade, quem sabe [abrindo] um ateliê”, encerra.