Empreendedora cria restaurante de culinária africana e fatura mais de R$ 400 mil no primeiro ano | Mulheres Empreendedoras
Inaugurado em outubro de 2023, na Vila Mariana, Zona Sul de São Paulo (SP), o restaurante Manden Baobá foi criado como um tributo à riqueza das tradições culinárias africanas. Sob a liderança de Laila Santos, 30 anos, o espaço conta com um cardápio que combina sabores de diferentes países, como Angola, Congo, Nigéria, Mali, Benin e África do Sul. Em 2024, o primeiro ano completo do estabelecimento, o restaurante faturou R$ 444 mil.
A ideia do negócio surgiu depois que Santos, natural de São Paulo, conheceu o empreendedor angolano Amílcar Tchinguelessy. “Nós somos dois apaixonados por culinária e pela história que pode ser contada pelo paladar. Por isso, decidimos nos juntar. Ele investiu, e eu criei o conceito do restaurante com minha visão enquanto mulher preta brasileira, com muita vontade de desmistificar a ideia de que a África é uma coisa só e mostrar a multiculturalidade do continente”, diz Santos.
A empreendedora, que até então trabalhava com marketing para uma empresa, mergulhou de cabeça no negócio, que contou com um investimento inicial de cerca de R$ 60 mil. Já no primeiro mês, os empreendedores não precisaram aportar capital reserva para manter a operação, garantido o funcionamento por meio do faturamento do espaço. Hoje, Santos é responsável por liderar e acompanhar de perto o dia a dia do restaurante, contando com o apoio e experiência de Tchinguelessy para as decisões mais estratégicas.
Para manter o ambiente fiel à identidade proposta, Santos prioriza a contratação de pessoas de origem africana. Atualmente, a cozinha é comandada por uma chef de São Tomé e Príncipe, além de duas assistentes do Congo. Assim, o time de colaboradores fixos do restaurante é formado por três mulheres e um homem de países africanos, e uma brasileira.
Para a empreendedora, a gestão de pessoas foi um pilar fundamental para o sucesso do negócio no primeiro ano. Mesmo com o esforço necessário para alcançar o quadro de funcionários desejado e para garantir que as diferenças culturais se somassem, ela afirma que refletir os princípios da empresa no dia a dia da operação foi essencial para conseguir transmitir a essência do espaço ao público e impulsionar o crescimento orgânico da demanda.
Recebendo uma média de 320 clientes por mês, o negócio não contou com qualquer investimento em mídia paga em um ano e três meses. Para Santos, o resultado é consequência da experiência dos consumidores, que fazem uma divulgação boca a boca do restaurante. “Nosso papel foi montar um ambiente e um cardápio pensado de acordo com os perfis de clientes que esperávamos, como africanos, afrodescendentes e pessoas que gostam de explorar culinárias diferentes”, diz.
No cardápio, cada prato recebe a indicação do país de origem. Segundo Santos, a ideia consistiu em incorporar as receitas mais tradicionais de alguns países, como a Tigadèguèna (estrogonofe de amendoim com frango, purê fufu de polenta e arroz e farofa), de Mali, e o Calulu de carne seca (prato que leva funge de milho, carne seca com beringela, espinafre, tomate, quiabo e azeite de dendê), da Angola. A empreendedora afirma que muitos pratos remetem à culinária nordestina, que conta com influência da cultura africana.
Outro movimento que Santos considera estratégico para o resultado obtido no início do negócio foi a rápida adesão a mudanças. Além de manter ouvidos abertos para eventuais críticas e sugestões dos clientes, ela buscou entender o que funcionava – ou não – na rotina do estabelecimento. “Não tive medo de mudar quando notei que seria benéfico. Por exemplo, começamos abrindo de segunda a sábado. Vi que segunda o movimento era mais fraco, enquanto domingo era um dia cheio em outros restaurantes da região. Logo, fizemos essa mudança, o que aumentou nossa média de consumidores na semana”, diz.
Para continuar em ritmo de crescimento, Santos vai apostar na oferta de um novo serviço a partir dos próximos meses: o café da manhã. Para a empreendedora, há uma crescente demanda por refeições no período da manhã e, em muitos países africanos, a primeira refeição do dia é considerada uma das mais importantes, o que, segundo Santos, torna coerente a ideia de expandir o horário e o cardápio.
Para 2025, a expectativa é dobrar o faturamento a partir dos aprendizados do primeiro ano, da nova aposta de serviço e dos primeiros investimentos em mídia paga, que serão feitos ainda neste semestre. Santos afirma que o objetivo é consolidar a operação neste ano para, depois, dar início a um projeto de expansão.
“Já temos investidores interessados em abrir franquias, inclusive em outros países. Como não existe uma extensa variedade de restaurantes de culinária africana, acredito que um bom posicionamento pode nos levar a muitos lugares. Um dos espaços que espero alcançar são os shoppings, que em geral não contam com essa gastronomia e que podem nos ajudar a mostrar que essa cozinha deve estar nos ambientes de elite”, conclui Santos.