Ela criou uma startup de mobilidade que conecta idosos a motoristas


Fundada por Ivonete Guarino, a Vô Contigo oferece um serviço de transporte e concierge, com operação em Cuiabá (MT) e São Paulo (SP) Por 15 anos, Ivonete Guarino, 37, foi sua própria chefe no setor de beleza e cosméticos. Embora gostasse da liberdade de fazer seu próprio horário e controlar seu salário, chegou um momento em que começou a se incomodar. “Olhei o mercado em busca de inspiração. Não queria voltar para o corporativo, mas precisava fazer algo estivesse alinhado com valores pessoais e fosse financeiramente sustentável”, conta. Ela começou a busca por algo novo, e uma sugestão de sua psicóloga a levou a criar a Vô Contigo, uma startup de mobilidade voltada para passageiros idosos.
A empreendedora chegou a cogitar abrir uma franquia para investir em um modelo validado, mas desistiu da ideia. Ela andava pelas ruas procurando oportunidades, fazia listas buscando inspiração e levou o assunto para a terapia, quando recebeu a sugestão que mudou tudo.
Com a provocação borbulhando na cabeça, Guarino pesquisou o mercado e encontrou uma startup semelhante que atuava em São Carlos, no interior de São Paulo. Ela estava em Cuiabá (MT). No dia seguinte, rascunhou o projeto da Vô Contigo pela manhã e à tarde procurou o Sebrae para pedir ajuda. Lá, conectou-se com um mentor que a apresentou ao ecossistema. “Tinha descoberto o que era startup no dia anterior. Saí da bolha cor de rosa e caí no fervo de empreendedorismo e inovação, me apaixonei”, afirma.
Era início de 2020 e, sem dinheiro para investir no negócio, ela decidiu ser o próprio MVP, tornando-se motorista. “Eu queria entender o valor para o meu cliente, pois tinha uma percepção apenas como filha. Também fui trabalhar em aplicativo, dirigir oito, nove horas por dia, para entender o outro lado”, relembra. Com a chegada da pandemia, Guarino teve de interromper a missão e, sem poder continuar os atendimentos, mergulhou em programas de aceleração.
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A Vô Contigo opera por agendamento, com o contato pelo WhatsApp, pelo qual Guarino conecta clientes e motoristas. Os serviços incluem corridas avulsas, planos mensais ou acompanhamento personalizado para atividades. Em Cuiabá, as solicitações para corridas precisam ser feitas com três horas de antecedência, enquanto em São Paulo, o prazo é de 24 horas.
“Começamos pelo WhatsApp porque é uma ferramenta acessível e democrática. Já procurei software houses, CTOs, mas nunca deu certo. Estar no WhatsApp também é estratégico para o público que eu atendo, porque idosos acessam o aplicativo o dia inteiro”, pontua.
No início, a cobrança das corridas avulsas era feita de acordo com a estimativa de outros aplicativos de mobilidade, mas a fundadora conseguiu estipular uma tabela própria que leva em consideração a quilometragem e o tempo de trajeto. A Vô Contigo recebe uma comissão de 30% das transações – seja de corridas ou do serviço de concierge, que tem custo de R$ 50 por hora em Cuiabá e R$ 60 por hora em São Paulo.
As entrevistas com os motoristas também são feitas pela própria fundadora. Em Cuiabá, a Vô Contigo tem cerca de 100 profissionais cadastrados, enquanto em São Paulo são 30 motoristas parceiros. “Em geral, eles cuidaram de familiares, sentiram a dor na pele e sabem o quanto é desafiador conciliar cuidados. Eles enxergam na startup uma oportunidade de ganhar dinheiro enquanto fazem o bem e abraçam a causa”, comenta.
Os motoristas da Vô Contigo passam por um treinamento ministrado por profissionais de gerontologia
Divulgação
Após morar alguns meses em São Paulo para uma imersão de um fundo de investimento, em 2023, ela percebeu a dificuldade que um negócio como o seu tem para conseguir um cheque de venture capital.
“Um dos grandes desafios é crescer sem comprometer a qualidade do serviço. Isso é ruim do ponto de vista de investimento, mas eu não quero crescer a qualquer custo. Eu cuido do motorista para ele cuidar do meu cliente, para ele entregar o que eu prometo na ponta. Prefiro dar passos pequenos, coerentes e sustentáveis”, declara. A Vô Contigo segue bootstrapping.
Além disso, ela aponta barreiras criadas por seu perfil empreendedor. “Sou mulher preta, mãe, tenho um negócio de impacto para um público sensível. São diversas camadas que tornam o investimento algo muito distante, vão exigir coisas que não exigem de outras pessoas. Atender o cliente para mim é mais importante”, afirma.
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A passagem pela cidade também mostrou que a complexidade local tornava o serviço da Vô Contigo necessário. Ela decidiu se mudar para a capital paulista com o filho e seis malas. A startup começou a atender clientes na cidade em setembro de 2024. Ao todo, a Vô Contigo tem 350 clientes cadastrados na base e em torno de 30% são ativos e utilizam o serviço com recorrência. Em janeiro, a Vô Contigo foi uma das selecionadas do BlackLab, do WeWork, e, além de um espaço de trabalho, vai ter um plano de mídias para utilizar.
Com crescimento de 30% em 2024 em comparação com o ano anterior, a fundadora quer que a startup acelere neste ano e “fazer em um ano o que fizemos em quatro”. A estratégia é abandonar a passividade do crescimento no boca a boca. Para isso, está estruturando a área comercial para tocar a prospecção ativa dos clientes. Outra aposta é entrar no B2B como benefício corporativo para colaboradores com pais de mais de 60 anos.
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