Crédito: veja como conseguir empréstimos sem comprometer a saúde financeira do seu negócio
Taxas de juros elevadas, faturamento insuficiente, poucas garantias para dar às instituições financeiras estão entre os desafios dos empreendedores eA busca por crédito tem sido um desafio para o empreendedor brasileiro no período de pós-pandemia e retomada de crescimento econômico. Embora a demanda das empresas por recursos financeiros tenha aumentado 1,8% em 2023 em relação ao ano anterior, segundo dados da datatech Serasa Experian, as dificuldades para aprovação de empréstimo permanecem.
Taxas de juros elevadas, faturamento insuficiente, poucas garantias para dar às instituições financeiras, excesso de burocracia e inadimplência elevada são alguns dos empecilhos citados por especialistas. “Essa realidade aumenta demais os riscos”, diz Cleber Genero, vice-presidente de Pequenas e Médias Empresas da Serasa Experian.
Uma ação para amenizar essa realidade veio do governo federal, que lançou em abril o programa Acredita, com o objetivo de fortalecer o mercado de crédito para micro e pequenos empresários. A expectativa é que R$ 50 bilhões sejam injetados na economia ao longo dos próximos anos. Dois dos pilares mais importantes são a disponibilização de R$ 7,5 bilhões em microcrédito para quem está inscrito no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) e o Desenrola Pequenos Negócios, que permite a negociação de dívidas do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). Há também o ProCred360, uma linha de R$ 12 bilhões exclusiva para microempreendedores individuais (MEIs) e microempresas, com juro anual de Selic mais 5%.
Como uma das principais dificuldades de empreendedores é apresentar garantias, o programa contará com a participação do Fundo Garantidor de Operações (FGO), do Desenrola e do Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe), do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que planeja viabilizar mais de R$ 30 bilhões de crédito no período de três anos. A previsão do governo federal é que mais de 6 milhões de MEIs e 2 milhões de pequenos negócios participantes do Simples Nacional se beneficiem da renegociação de dívidas.
Initial plugin text
Boa gestão
“A maior causa para o não pagamento do Pronampe é que ele não foi suficiente para restabelecer a saúde financeira de muitos negócios”, afirma Diego Marconatto, professor especialista em crescimento de empresas da Fundação Dom Cabral. “Ter capacidade de gestão é mais importante do que pegar crédito, pois se o empreendedor não controlar seu ciclo de conversão do caixa, terá dificuldade para pagá-lo.”
O ciclo de conversão de caixa tem três componentes principais: o tempo médio que os produtos ficam parados no estoque, que a empresa leva para receber os pagamentos de clientes e que o empreendedor tem para saldar o débito com seus fornecedores. Se ele pagar os fornecedores num prazo de 20 dias, mas receber dos consumidores dentro de 40 dias, terá problema de capital de giro nesse intervalo para financiar suas operações e honrar suas dívidas, possivelmente caindo na inadimplência. Uma boa educação financeira pode reduzir esse risco.
Conhecer bem o seu negócio e as características do setor em que atua e ter uma gestão eficiente permitem que o empreendedor recorra menos ao mercado de crédito para fechar suas contas no azul e lide melhor com as dívidas já feitas. “Se ele estiver precisando de recursos, pode evitar o endividamento adotando estratégias simples como incentivar os clientes a pagar com pix, gerando assim uma entrada imediata de dinheiro e sem custo algum”, afirma Thiago Carvalho, assessor da FecomercioSP. “É possível também fazer promoções de produtos parados no estoque e dar descontos pontuais nos finais de semana para atrair o consumidor.”
Além dos benefícios do novo programa, há a expectativa, no setor financeiro, de redução das taxas de juros, diz Giovanni Bevilaqua, coordenador de acesso a crédito e investimentos do Sebrae Nacional. “A taxa média para pequenos negócios gira em torno de 37% e 40% ao ano, mantendo um diferencial elevado em relação à Selic, que está em 10,75% ao ano”, afirma. “Caso a Selic tenha uma queda para 9% ao ano, essa taxa média pode ser reduzida para menos de 30%, o que deverá facilitar um pouco o acesso ao crédito em 2024.”
Fundos garantidores
Em caso de dificuldade na oferta de garantias aos bancos, uma alternativa é buscar crédito em instituições financeiras participantes de fundos garantidores de crédito, que chegam a complementar em até 80% o valor da operação. Esse percentual pode oscilar, dependendo do tipo de financiamento solicitado e do porte da empresa. “Caso o tomador fique inadimplente, a instituição financeira aciona o fundo, que assumirá parte do valor da operação”, diz Bevilaqua.
Ao fornecer garantias aos bancos, esses fundos possibilitam ao empreendedor ter acesso a taxas de juros reduzidas, uma vez que os riscos diminuem, e contratar os recursos de que necessita para investir em inovação, expansão e outras demandas do negócio. São os casos do já citado Fampe, gerenciado pelo Sebrae; e o FGO, administrado pelo Banco do Brasil, além do Fundo Garantidor para Investimentos (FGI), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Initial plugin text
Onde buscar dinheiro
Principais produtos e serviços financeiros oferecidos
Bancos comerciais privados
Antecipação de recebíveis
Cheque especial
Crédito para capital de giro
Crédito rotativo
Empréstimo a prazo
Financiamento para compra de máquinas e equipamentos
Instituições financeiras não bancárias
(cooperativas de crédito, financeiras, factorings e securitizadoras, entre outras)
Capital de giro
Crédito rotativo
Desconto de duplicatas
Empréstimo a prazo
Factoring
Financiamento para compra de máquinas e equipamentos
Agências de desenvolvimento econômico
(organizações públicas ou privadas que têm como missão contribuir com o desenvolvimento econômico de cidades, estados e do país)
Empréstimo de longo prazo para investimentos em ativos fixos
Financiamento para exportação
Incentivos fiscais e subsídios para determinadas regiões do país ou setores da economia
Linhas de crédito subsidiadas para apoio às MPMEs
Microcrédito
Fintechs
Antecipação de recebíveis
Aquisição de equipamentos
Capital de giro
Desconto de duplicatas
Empréstimo a prazo
Empréstimo peer-to-peer, conectando tomadores de empréstimos a investidores
Linhas de crédito rotativo
Financiamento coletivo
Financiamento para projetos específicos, lançamento de produtos e aquisição de equipamentos, entre outros
Pré-venda de produtos e serviços para geração de receita antecipada
Fontes: consultores de negócio e empresários
Retrato da oferta de recursos no país
Pequenas e médias empresas buscam crédito, mas nem sempre conseguem
Fonte: Sebrae (5ª edição pesquisa “Pulso dos Pequenos Negócios”, realizada de 27/11 a 4/12 de 2023) e (10ª edição da pesquisa “O Financiamento dos Pequenos Negócios no Brasil”, realizada em agosto de 2023)
Fonte: Sebrae (5ª edição pesquisa “Pulso dos Pequenos Negócios”, realizada de 27/11 a 4/12 de 2023) e (10ª edição da pesquisa “O Financiamento dos Pequenos Negócios no Brasil”, realizada em agosto de 2023)
Fonte: Sebrae (5ª edição pesquisa “Pulso dos Pequenos Negócios”, realizada de 27/11 a 4/12 de 2023) e (10ª edição da pesquisa “O Financiamento dos Pequenos Negócios no Brasil”, realizada em agosto de 2023)
* Permitiu múltiplas respostas – Fonte: Sebrae (5ª edição pesquisa “Pulso dos Pequenos Negócios”, realizada de 27/11 a 4/12 de 2023) e (10ª edição da pesquisa “O Financiamento dos Pequenos Negócios no Brasil”, realizada em agosto de 2023)
** A pesquisa não foi realizada em 2021 – Fonte: Sebrae (5ª edição pesquisa “Pulso dos Pequenos Negócios”, realizada de 27/11 a 4/12 de 2023) e (10ª edição da pesquisa “O Financiamento dos Pequenos Negócios no Brasil”, realizada em agosto de 2023)
Fonte: Sebrae (5ª edição pesquisa “Pulso dos Pequenos Negócios”, realizada de 27/11 a 4/12 de 2023) e (10ª edição da pesquisa “O Financiamento dos Pequenos Negócios no Brasil”, realizada em agosto de 2023)
* Permitiu múltiplas respostas – Fonte: Sebrae (5ª edição pesquisa “Pulso dos Pequenos Negócios”, realizada de 27/11 a 4/12 de 2023) e (10ª edição da pesquisa “O Financiamento dos Pequenos Negócios no Brasil”, realizada em agosto de 2023)
Investimento inicial
Sem dinheiro para começar o negócio?
Fazer uma dívida para abrir uma empresa pode, inicialmente, parecer uma ideia ruim. Nessa fase, o empreendedor ainda não possui dinheiro em caixa e costuma ter muitas dúvidas: o negócio é realmente promissor? Vai gerar receita para cobrir as despesas operacionais? Haverá recursos suficientes todos os meses para pagar essa dívida junto à instituição financeira?
Sem um planejamento financeiro de longo prazo, os riscos são grandes. Mas, para quem se preparou para esse desafio, essa alavancagem financeira no começo das atividades pode impulsionar o crescimento da empresa, permitir a aquisição de equipamentos e novas tecnologias fundamentais para o sucesso e cobrir emergências de curto prazo que exijam capital imediato.
“Se a pessoa tiver a certeza de que o perfil da dívida estará sincronizado com sua capacidade de pagamento, então não haverá problema”, afirma Diego Marconatto, professor e especialista em crescimento de empresas da Fundação Dom Cabral.
Ele lembra que, no início, o empreendedor não possui muitas garantias para dar ao banco e só tem acesso a créditos com taxas muito elevadas, como a do cheque especial e a do cartão de crédito, uma vez que o risco é maior.
Algumas alternativas são conversar com cooperativas de microcrédito e fintechs ou entrar em plataformas de crowdfunding para levantar fundos a partir de uma base de investidores individuais. Essas soluções costumam ter taxas de juros menores que a média de mercado. No caso do microcrédito, elas chegam a no máximo 4% ao mês. Já no cheque especial, podem ser superiores a 14% mensais.
A cozinha cresceu
Keid Reis recorreu a um fundo de microcrédito para abrir a primeira unidade da Tapiok Reis
Anna Carolina Negri
Quando decidiu abrir um negócio em plena pandemia, a baiana Keid Kerly Santos Reis, 37 anos, não previu as dificuldades que teria para conseguir crédito.
Em 2020, trabalhando como funcionária de uma editora, começou a se preocupar com uma possível demissão por causa da crise econômica. Passou a fazer tapiocas gourmet na cozinha do seu apartamento, em São Paulo, e vender para os vizinhos.
Para sua surpresa, os pedidos aumentaram rapidamente, e a fama se espalhou pela região – em um único mês, ela chegou a faturar cerca de R$ 30 mil. Sem ter mais como conciliar a vida de empreendedora com o emprego formal, pediu demissão para se dedicar ao negócio.
Três anos depois, a cozinha estava pequena para tantos pedidos, e ela foi ao banco buscar um crédito de R$ 10 mil. O objetivo era alugar um espaço para instalar a produção e os clientes fazerem as refeições ou pedirem pelo delivery.
Como tinha aberto sua conta corrente pessoa jurídica havia pouco tempo e não possuía garantias para oferecer, o pedido foi negado. “Naquele momento, achei que o melhor seria criar caixa por conta própria e esperar um pouco mais, mas não dava para continuar daquela forma em nosso apartamento.”
Reis saiu novamente em busca de recursos e descobriu um fundo de microcrédito da Conta Black, uma fintech que atende pessoas que não têm acesso a uma série de serviços financeiros e bancários. Por meio de uma parceria deles com a Genial Investimentos, foram aprovados R$ 20 mil.
Com esse dinheiro, ela alugou, reformou e inaugurou neste ano a primeira unidade da TapioK Reis, no bairro do Limão, na capital paulista. Também contratou duas funcionárias. As vendas giram em torno de 50 tapiocas e crepiocas por dia, todas feitas com massa de fabricação própria. Os preços variam entre R$ 24,99 e R$ 39,99. Há combos com bebidas.
O pagamento do crédito foi acordado em 18 parcelas de R$ 1,7 mil, que, segundo a empreendedora, não sobrecarregam o caixa da empresa. “Nossa meta é abrir mais uma loja no futuro, dobrar as vendas – chegando a cem tapiocas vendidas por dia – e ter uma franquia da marca”, diz. “Se eu soubesse da existência do microcrédito, teria solicitado antes.”
Leia também
Aquisição de máquinas e equipamentos
Aposta na eficiência
A aquisição de máquinas e equipamentos modernos é uma decisão estratégica importante para empresas que almejam aumentar a produtividade, aprimorar a qualidade de seus produtos e reduzir custos operacionais. Há casos em que os investimentos são elevados e é preciso ter preparo para negociar crédito em condições favoráveis junto a instituições financeiras.
Contar com um bom volume de vendas, que garanta a entrada de recursos e a capacidade de pagamento, e possuir um bom histórico de crédito é importante para obter taxas de juros menores. Os bancos levam em conta também o score da organização, uma pontuação que mede o risco da operação. Para melhorá-lo e aumentar chances de aprovação do empréstimo, o empreendedor deve pagar suas contas em dia, ter um controle eficiente das finanças, regularizar dívidas e manter atualizado o cadastro positivo.
Na hora de comprar máquinas e equipamentos, existe um caminho alternativo que pode ser bem menos burocrático e mais barato. “Há casos em que vale a pena negociar diretamente com o fornecedor e conseguir um prazo mais longo que os tradicionais para fazer esse pagamento”, afirma Cleber Genero, vice-presidente de Pequenas e Médias Empresas da Serasa Experian.
Nesse caso, é possível fazer um acordo de financiamento direto junto ao fabricante, obter descontos para pagamentos antecipados ou até mesmo negociar um financiamento reverso, quando a empresa utiliza o próprio equipamento que irá adquirir do fornecedor como garantia.
A voz da segurança
A primeira vez que Luiz Sales obteve crédito para a PXTalk foi por um programa de fomento voltado a micro, pequenas e médias empresas
Anna Carolina Negri
Desde que fundou em 2018 a PXTalk, startup especializada em serviços de voz para portarias autônomas ou remotas, o empreendedor Luiz Sales, 47 anos, buscou duas vezes crédito no mercado. Entre os principais motivos estavam a necessidade de investimentos para crescimento da empresa, a compra de novos equipamentos e uma pivotagem.
“Tínhamos um software VoIP [chamadas de voz por internet de banda larga, em vez da conexão analógica tradicional] para trabalhar com CRM [relacionamento com clientes], mas percebemos que as empresas de segurança especializadas em portarias de prédios e condomínios buscavam controle maior de acesso de moradores, prestadores de serviços e entregadores.”
Ele e os sócios, Sara Oliveira, 43 anos, e Lucas Costa, 28, reescreveram o software para atender à necessidade do mercado e mudaram os rumos do negócio. A pandemia e o isolamento social impulsionaram as vendas, uma vez que aumentaram a procura por tecnologias de comunicação sem contato humano.
A primeira vez que Sales obteve crédito foi em 2022, pelo programa de fomento Desenvolve SP, do estado de São Paulo, voltado a micro, pequenas e médias empresas. Foi de R$ 50 mil, em 48 parcelas e carência de seis meses para o primeiro pagamento. No mesmo ano, captou R$ 150 mil do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), do governo federal, com o mesmo número de meses de carência e de parcelas.
No ano passado, a PXTalt recebeu um aporte de R$ 300 mil do Google Black Founders Fund. Parte desse recurso foi destinado à compra de computadores e equipamentos de reconhecimento facial. Cada aparelho custou, em média, R$ 1,5 mil. “Existe uma grande variedade de marcas e equipamentos que precisam ser homologados por nós”, diz. Hoje a empresa conecta sua tecnologia a mais de 3 milhões de pessoas.
Antes de fazer os empréstimos, os sócios conversaram com empresários e pediram conselhos sobre as linhas mais favoráveis para seus objetivos. Para não terem os pedidos negados, foram orientados a estruturar melhor a área financeira. Contrataram uma consultoria, trocaram a contabilidade e organizaram a documentação. Sem esse cuidado, na análise de Sales, a busca não teria sido bem-sucedida.
Inovação
Capital para novas tecnologias
O poder de inovação de um empreendimento está ligado à aquisição de novas tecnologias. Para quem busca crédito para investir naquilo que há de mais moderno e revolucionário no mercado, aqui vai um alerta de especialistas: conheça muito bem o seu negócio para saber exatamente do que ele precisa – e se a dívida cabe no seu orçamento.
“A inovação é uma promessa e envolve riscos”, alerta Diego Marconatto, professor da Fundação Dom Cabral. “Tem que possibilitar mais eficiência e produtividade, melhorar a experiência do cliente e gerar dados estratégicos para a tomada de decisão mais assertiva.”
Um erro bastante comum é fazer um empréstimo grande para pagar no curto prazo e descobrir que os resultados só aparecerão em alguns anos. Esse descompasso vai afetar rapidamente as finanças.
Muitas empresas decidem investir em inovação para enfrentar as dificuldades financeiras, mas o melhor é buscar crédito justamente quando estão com as finanças saudáveis, permitindo a negociação de melhores taxas e prazos. “Descubra quanto a inovação irá gerar, pois esse ganho permitirá pagar facilmente o empréstimo”, diz o especialista.
Várias instituições oferecem créditos específicos para inovação e com juros baixos, ou até mesmo a fundo perdido. Entre elas, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
“Tem muito crédito disponível no mercado, o que falta são bons tomadores desse crédito”, afirma. “Por isso, o melhor momento é quando a empresa não precisa.”
De olho nos editais
Sérgio Finger recorreu a um edital destinado a negócios de impacto para investir na Trashin
Daniel Marenco
A inovação faz parte da essência do negócio da Trashin, cleantech gaúcha que oferece soluções completas para logística reversa e gestão de resíduos. Por essa razão, busca recursos constantemente para adquirir novas tecnologias e atender grandes clientes, como iFood, Havaianas, Natura e Nike.
Desde a fundação, em 2018, recebeu quatro aportes, o último deles em 2022, da Irani Ventures, no valor de R$ 1,5 milhão. Em março deste ano, no entanto, Sérgio Finger, 38 anos, e seus três sócios, Daniel Petersen, 40, Gustavo Finger, 37, e Rafael Dutra, 33, decidiram fazer um empréstimo no valor de R$ 1,4 milhão.
“Como startup, o caminho seria captar novos investimentos, mas isso implica trocar mais um percentual da empresa que faria falta para nós no futuro”, diz Sérgio. “Sabíamos como fazer esse endividamento para que ele ocorresse de forma saudável.”
A Trashin tem mil pontos de coleta no país e registrou 17 mil toneladas de resíduos direcionados. Para acessar o crédito, foi preciso participar do edital do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul), que tem uma linha destinada a negócios de impacto.
Depois de um longo processo de análise, a cleantech foi aprovada. O empreendedor diz que o trâmite foi burocrático e envolveu uma avaliação detalhada dos fundos de investimento que fizeram aporte e dos sócios-investidores que participaram do crowdfunding no início do negócio. O contrato prevê dois anos de carência e cinco anos para pagamento.
O dinheiro será usado para implementação de tecnologias de internet das coisas (IoT) para substituir processos manuais de triagem; aperfeiçoamento do sistema para fornecimento de dados com mais precisão e detalhamento; e levantamento de informações sobre os resíduos capaz de gerar insights aos clientes, como o perfil de consumo das pessoas de uma determinada região e o tipo de material que está sendo direcionado para o rejeito.
Sérgio Finger gostou da captação por banco. Tanto é que pretende participar de novos editais, e, para isso, contratou um profissional para acompanhá-los e redigir propostas. “Eles têm subsídios muito interessantes”, diz. “Mas, diferentemente de outros tipos de crédito, é preciso prestar contas frequentemente e mostrar onde o dinheiro está sendo investido.”
Veja mais
Capital de giro e pagamento de salários
Alívio financeiro
Recorrer a empréstimos para capital de giro e pagamento do salário dos funcionários é uma estratégia recorrente em muitas empresas. Não há nada de errado em adotá-la quando existe um bom controle das finanças e a certeza de que haverá recursos para o pagamento.
O problema é quando o caixa não supre o que precisa ser pago. Nesse caso, existe risco de endividamento excessivo, pagamento de juros elevados, inadimplência e perda de credibilidade no mercado.
“Se você sabe que, nos próximos meses, vai precisar de capital de giro e necessita de uma reserva apenas para suportar esse período de baixa receita, então vale a pena fazer essa dívida”, diz Márcio Iavelberg, da consultoria Blue Numbers.
Pedir crédito constantemente para essa finalidade é um indicador de que algo não vai bem. “Pode ocorrer um desgaste na relação com os bancos, pois eles vão entender que você está enfrentando dificuldades para pagar as contas”, diz. “Isso vai dificultar as negociações, que podem ficar mais caras e pesar no orçamento da empresa.”
Para não recorrer com tanta frequência a esse socorro financeiro, muitas vezes basta se programar. O consultor cita o exemplo do pagamento do 13º salário: em vez de guardar todo mês uma pequena quantia e chegar ao final do ano com o valor total para o pagamento, alguns empresários pegam crédito e arcam com parcelas com juros elevados.
O ideal é que o empréstimo para capital de giro e pagamento de salários seja feito em situações específicas, como suportar flutuações sazonais, pagar fornecedores ou enfrentar emergências no planejamento. Isso vai garantir a confiança de funcionários e fornecedores.
As instituições têm várias linhas de crédito para capital de giro, mas é preciso atentar aos juros anuais, que vão de 4,4% a 34,33% ao ano, segundo o Banco Central.
Reforço para o dia a dia
Sem revelar valores, Luiza Tolosa diz que as parcelas dos empréstimos que tomou comprometeram pouco o caixa da Cervejaria Dádiva
Anna Carolina Negri
Ter recursos para manter um bom capital de giro é fundamental para a saúde financeira de qualquer empresa e garantir que suas despesas operacionais sejam pagas em dia. A empreendedora Luiza Lugli Tolosa, 36 anos, nunca descuidou dessa regra básica desde que fundou, em 2014, a Cervejaria Dádiva, especializada na produção de cervejas artesanais e sediada em Várzea Paulista (SP).
A empresa se preparava para entrar num ciclo importante de crescimento em 2020 – e veio a pandemia. Ela e o sócio, Victor Pereira Marinho, 35 anos, reavaliaram o planejamento e optaram por não demitir ninguém da equipe, que hoje conta com 30 funcionários. “Estávamos com um time robusto, os tanques cheios de cerveja e produzindo em volumes altos”, conta. “Conseguimos três linhas de crédito mais acessíveis para pagar salários e capital de giro.”
A empreendedora não revela o valor dos empréstimos, mas diz que as parcelas representam cerca de 5% da receita mensal da empresa. O valor era debitado automaticamente todos os meses da conta bancária, como previsto em contrato. Dessa forma, não seria possível mudar os planos e realocar esses recursos em outras áreas da organização.
Os processos de análise de crédito, segundo ela, foram simples, com pouca burocracia e dispensa de apresentação de garantias como imóveis, equipamentos ou duplicatas. Essa facilidade só ocorreu porque a cervejaria havia obtido créditos anteriormente em bancos comerciais para investir no crescimento da empresa e foi considerada boa pagadora.
“Quem vai pegar crédito para capital de giro precisa analisar não só as taxas de juros, mas a carência oferecida, e ter a convicção de que conseguirá gerar caixa no nível necessário para pagá-lo”, afirma. “É preciso planejar e ir atrás dos números, sempre considerando o cenário do momento e tendo uma visão realista do futuro.”
Antecipação de recebíveis
Dinheiro na mão
A antecipação de recebíveis é a modalidade de crédito mais utilizada pelo varejo. Além de receber o adiantamento dos valores das vendas a prazo e transferir o risco da inadimplência para a instituição financeira, é uma forma simples, rápida e sem burocracia de o lojista ter dinheiro em caixa. Ela pode ser feita por meio das maquininhas de crédito ou repassando os boletos que ainda serão pagos pelos clientes aos bancos.
“As maquininhas oferecem uma série de facilidades, inclusive com pagamento na hora para o lojista”, explica Thiago Carvalho, assessor da FecomercioSP. “É por isso que os comerciantes costumam ter mais de uma na loja com bandeiras diferentes, pois, dependendo das vantagens, eles utilizam uma ou outra.”
Essa modalidade de crédito é utilizada pelo varejo principalmente para pagamento do salário dos funcionários. O especialista destaca que é um dos créditos mais baratos do mercado, com taxas de juros mensais oscilando entre 2% e 15% ao mês, dependendo da instituição. “Só o cheque especial pode chegar a mais de 400% ao ano em alguns bancos privados”, compara.
Antes de fazer antecipações, no entanto, Carvalho aconselha que o dono do negócio avalie com cuidado o custo de cada maquininha, se há muita burocracia e quais são as facilidades e as penalidades em caso de inadimplência, principalmente se forem feitas na modalidade de recursos garantidos, na qual são exigidas garantias.
“Para quem sofreu com a pandemia, como as empresas do varejo, e enfrenta um mercado de crédito restrito, a antecipação de recebíveis é uma ferramenta muito importante”, diz.
Rápido e sem burocracia
MAQUININHAS – Para manter em dia as finanças da clínica que leva seu nome, Zarah Flor recorre à antecipação de recebíveis em épocas sazonais
Anna Carolina Negri
As primeiras tentativas de solicitar empréstimo não foram boas experiências para Zarah Flor, 38 anos, fundadora de uma clínica de estética especializada em pele negra que leva seu nome. Em 2015, ela trabalhava sozinha numa pequena sala em São Paulo. Durante a pandemia, enquanto a concorrência fechava temporariamente as portas, ela e o marido, Anderson Reis, 40, que entrou para a sociedade, foram atrás de um empréstimo para alugar um espaço maior.
“Havia muita burocracia e exigência de garantias e não tivemos sucesso”, conta a empreendedora, que teve de vender alguns bens em 2019 e recorrer ao limite do cheque especial e do cartão de crédito. Em pouco tempo, a dívida saltou de R$ 4 mil para R$ 120 mil. Foi a vez de Reis, que trabalha também como DJ, vender seus equipamentos de som para quitar tudo.
Naquele ano, Flor descobriu estar grávida de sua segunda filha, Maya – hoje com 4 anos –, e um câncer de mama. A cirurgia e as sessões de quimio e radioterapia foram feitas logo após o parto.
Mesmo nesse momento difícil, ela não desistiu do negócio. Aos poucos, a clínica foi recebendo mais clientes e equilibrando as finanças. Hoje, com oito funcionários, faz cerca de 700 atendimentos por mês: 80% do público é formado por mulheres em busca de sessões de depilação a laser e tratamento de acnes e manchas.
A empreendedora desenvolveu também um protetor solar para pele negra, aplicado após os atendimentos. Os clientes gostaram tanto da novidade que são vendidas, em média, 50 unidades do produto por mês. O estabelecimento também tem parcerias com médicos que usam o espaço para consultas.
Para manter as finanças da clínica em dia, os sócios fazem antecipação de recebíveis, principalmente no inverno, quando a procura diminui. “Geralmente usamos via maquininha de cartão, mas os juros são de 12%, mais as taxas de 2,8% para os pagamentos no crédito e de 1,9% no débito, o que pode consumir 25% do orçamento mensal”, diz. “É preciso cuidado para a máquina não se transformar no meu terceiro sócio.”
“Se os tratamentos são parcelados em 12 vezes, fazemos a antecipação para pagar comissões e bonificações. O dinheiro cai na conta em dois dias”, diz. Para fugir dos juros e receber na hora, a saída tem sido dar desconto de 5% para quem pagar com pix.
Troca de uma dívida por outra
Contrate um crédito mais barato
Uma empresa que luta para pagar um empréstimo com parcelas altas e taxas de juros elevadas pode mudar essa realidade com uma medida simples: ir atrás de um novo empréstimo com condições mais favoráveis para quitar o anterior.
“Se você está usando o limite do cheque especial, que tem juros altíssimos, pode pegar crédito para capital de giro ou fazer antecipação de recebíveis”, sugere Iavelberg, da Blue Numbers. “São dois tipos de crédito com juros bem menores.”
É possível também conseguir prazos maiores para pagamento. Nesse caso, o empreendedor precisa ter cuidado, pois, embora as parcelas sejam menores, os juros podem aumentar por causa do prazo estendido.
Para o consultor, outro detalhe importante é se certificar que a diferença entre as taxas do crédito anterior e do novo endividamento não sejam muito pequenas, algo como 1% ou 2% apenas. “O banco vai cobrar IOF e uma taxa para contratação do novo crédito, o que pode fazer com que os valores sejam praticamente os mesmos”, diz.
Nesse caso, o esforço não traz vantagem. Vale consultar sempre o banco em que o empreendedor é correntista. Como já existe uma boa relação com o gerente, e ele conhece o histórico da empresa, a aprovação pode ocorrer mais facilmente.
Uma alternativa é procurar as fintechs, que têm processos mais simplificados, cobram taxas menores e costumam ser rápidas na liberação do dinheiro. Algumas são especializadas em segmentos específicos do mercado, como micro, pequenas e médias empresas, e oferecem produtos e serviços personalizados.
Alívio nas contas
Com os juros mais baixos de um novo empréstimo para a Troca Vidro, Jane Rutz baixou a mensalidade de R$ 5,5 mil para R$ 3,6 mil
Kelly Schmidt
Buscar crédito no mercado sem se atentar às taxas de juros é um erro que pode comprometer seriamente o caixa da empresa. Não são raros os casos de empreendedores que se frustram por não ter feito uma pesquisa detalhada e sofrem para pagar as prestações.
Foi o que aconteceu com os noivos Jane Venzke Rutz, 28 anos, e Renan Barbosa Garcia, 30. Eles são os donos da Troca Vidro, loja especializada em substituição da tela de vidro de celulares, sediada em Pelotas (RS).
Em 2020, a dupla precisava de recursos para alugar e reformar uma loja maior na galeria em que estava instalada e conseguiu um crédito de R$ 60 mil. “Eu realmente não entendia nada do assunto e assumi uma mensalidade de R$ 5,5 mil por 24 meses”, conta Rutz. “Tivemos que apertar bastante o cinto, pois a despesa com aluguel também aumentou, passando de R$ 4 mil para R$ 6,5 mil.”
Preocupada com a saúde financeira da empresa, ela procurou, no ano passado, uma consultoria para saber como reduzir as despesas. Depois de fazer uma análise detalhada, que identificou ainda que o estoque estava alto demais, o consultor a aconselhou a fazer um novo empréstimo, com juros mais baixos, para pagar o outro mais caro.
A empreendedora procurou uma cooperativa de crédito e conseguiu R$ 50 mil para quitar em 20 meses. A taxa de juros era de 2,5% ao mês, metade da anterior. O valor da parcela caiu para R$ 3,6 mil. “Sem essa orientação, eu teria demorado mais tempo para perceber o problema. Pedir ajuda fez toda a diferença”, afirma.
No novo espaço, Rutz conseguiu acomodar melhor a área de assistência técnica e os 30 funcionários, e aumentar o número de clientes. O diferencial da Troca Vidro é fazer somente a substituição do vidro do celular, mantendo o display, o que custa cerca de R$ 250. A concorrência, segundo ela, costuma trocar o conjunto todo e cobrar R$ 750.
Neste momento, os sócios estão se estruturando no franchising. O valor, considerando a taxa de franquia, a compra dos móveis e o investimento para a formação do estoque, vai variar entre R$ 70 mil e R$ 75 mil, dependendo do tamanho da loja.
* Esta reportagem foi publicada originalmente na edição de maio da revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios
Source link