Bolsa de couro, perfumes, porcelana: Empresa resgata objetos de naufrágio do Titanic e mantém em armazém secreto | Ideias de negócios

Um depósito localizado em Atlanta, no estado americano da Geórgia, tem o endereço mantida à sete chaves. E não é para menos: em suas prateleiras, o local guarda objetos recuperados dos passageiros que morreram e dos que sobreviveram ao naufrágio mais famoso do mundo, o Titanic. São milhares de objetos, como louças, botões, uma garrafa de champagne, e até pequenos frascos de perfumes, ainda potentes, que contam histórias, revelam memórias e denunciam até a divisão de classes que atravessavam o Atlântico no imponente navio.

Uma bolsa de pele de jacaré sobreviveu décadas no fundo do mar, preservando até mesmos alguns itens delicados resguardados em seu interior no momento da tragédia, em 1912. Eles contam um pouco sobre a vida de sua dona, Marian Meanwell, uma chapeleira de 63 anos que viajava na terceira classe.

— Ela estava viajando para os EUA para ficar com sua filha que tinha ficado viúva recentemente — explicou Tomasina Ray, diretora de coleções da RMS Titanic Inc à rede BBC, que teve a rara oportunidade de visitar o local.

A empresa americana tem os direitos de resgate do navio e, ao longo dos anos, recuperou 5.500 itens do local do naufrágio, explicou a BBC. O resgate desses objetos deve ser feito sob condições rigorosas, como manter os itens juntos, para que não possam ser vendidos separadamente, e precisam ser conservados adequadamente.

Entre as lembranças havia uma foto desbotada, que eles acreditam serem da mãe de Meanwell, uma papelada que seria necessárias para sua nova vida nos EUA, e o seu cartão de inspeção médica. A rede britânica explicou que todos os passageiros de terceira classe precisavam comprovar que não estariam levando doenças para o país.

Um dos documentos revela a imensa má sorte da senhora: Meanwell estava reservada a princípio para viajar no Majestic, um outro navio da companhia White Star Line. Mas, por um revés do destino, ela não partiu na embarcação. O seu bilhete está riscado, mostrando que a idosa havia sido transferida para o Titanic.

— Poder contar sua história e ter esses objetos é muito importante. Caso contrário, ela é apenas mais um nome na lista — observou Tomasina, em referência às 1.500 pessoas que morreram no naufrágio.

Entre os objetos mais fascinante estão, sem dúvidas, os pequeninos frascos de perfumes que, para surpresa de muitos, ainda exalam de maneira “potente”, segundo a descrição da própria diretora da RMS Titanic Inc.

Os frascos estão guardados dentro de um recipiente de plástico que, ao ser aberto, exala um cheiro doce e enjoativo. Os perfumes estão lacrados e, explicou Tomasina, pertenciam a um vendedor de perfumes, identificado como Adolphe Saalfed, que estava a bordo do Titanic.

— Ele tinha mais de 90 desses pequenos frascos de perfume — disse Tomasina.

Saalfed viajava na segunda classe e sobreviveu ao naufrágio. Seus pertences, porém, ficaram submersos por anos. A diretora contou que o vendedor já havia falecido quando os frascos de perfume foram encontrados. Ela relatou achar que Saalfed vivia com um pouco de “culpa de sobrevivente”. O resgate estava sendo priorizado para mulheres e menores de idade, mas alguns que foram resgatados ficaram perturbados.

Objetos que expõem divisões

A empresa americana também encontrou uma garrafa de champagne cheia e lacrada.

— Um pouco de água provavelmente teria entrado pela rolha, pois ela se comprimiu e igualou a pressão. E então ele ficou no fundo do oceano — explicou Tomasina.

Mas o espumante está longe de ser o único a ter ficado submerso. Também estão espalhadas uma enorme quantidade de “panelas e utensílios de cozinha”, uma vez que o navio teria “se partido em uma de suas cozinhas”. Os donos do navio queriam que seus passageiros de primeira classe experimentassem o máximo de luxo, e milhares de garrafas de champagne os acompanhava na viagem.

— Era como um palácio flutuante, e o Titanic deveria ser o navio mais luxuoso — explicou Tomasina, acrescentando: — Então, ter champanhe, ter uma academia, ter todas essas comodidades e essas coisas excelentes para os passageiros teria sido muito importante para eles.

Ao mesmo tempo, o luxo não era para todos. Ao contrário, era bastante restrito, e as diferenças de classes vinham estampadas até mesmo em copos e pratos onde as refeições eram servidas.

A BBC informou que as canecas da terceira classe eram simples e resistentes, de cor branca e com um logotipo vermelho brilhante da White Star. Já um prato de segunda classe era mais ornamentado, ostentado uma decoração floral azul e aparentando ser um pouco mais fino. Um prato de primeira classe, por sua vez, era feito de um material mais delicado, com um acabamento dourado e, sob a luz é possível ver um padrão de guirlanda intricado.

Os passageiros da primeira classe também recebiam talheres de prata nas refeições, enquanto na terceira classe “eles provavelmente teriam manuseado a porcelana eles mesmos.”

— Ela [a porcelana da terceira classe] definitivamente foi feita para ser muito mais estável e manuseada de forma muito mais brusca do que as outras porcelanas — explicou Tomasina.

A empresa também recuperou alguns recursos de segurança do navio, como rebites, que são pinos de metal grossos que mantinham as placas de aço unidas. Deveriam haver mais de três milhões delas, informou a BBC. Tomasina afirmou que, quando o navio afundou, circulava a teoria de que “estavam usando materiais de qualidade inferior”, o que teria feito com que o Titanic afundasse “mais rápido”.

— Havia altas concentrações de escória neles, que é um material semelhante ao vidro que os torna talvez um pouco mais quebradiços no frio — explicou a diretora, uma vez que alguns desses rebites foram testados para ver se continham impurezas. — Se esses rebites fossem frágeis e uma das cabeças dos rebites se soltasse com mais facilidade, isso poderia ter permitido que a emenda se abrisse no local onde o iceberg bateu e a tornasse maior do que seria de outra forma.

Esta é apenas uma das informações que podem ser extraídas do trabalho de resgate, e Tomasina afirmou que a contribuição à ciência e à história “é algo que nos deixa felizes”.

Até o momento, todos os itens foram coletados de campo de destroços, mas a empresa revelou o desejo de recuperar um objeto do próprio navio: o equipamento de rádio usado para transmitir os pedidos de socorro da tripulação. O pedido causou polêmica, já que alguns acreditam que o navio é um túmulo e que, portanto, deve ser deixado em paz.

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