Black Influence faz 5 anos e alcança R$ 40 milhões em repasses para influenciadores negros
Fundada por Ricardo Silvestre, empresa já atendeu marcas como Pinterest, Prime Video, Meta e L’Oréal. Na visão do empreendedor, empresas estão mais abertas ao tema de diversidade em suas campanhas A falta de representatividade na publicidade motivou Ricardo Silvestre, 28 anos, a fundar a Black Influence, agência que conecta marcas a influenciadores negros. O negócio, que completa cinco anos em agosto deste ano, comemora a marca de R$ 40 milhões para 200 influenciadores negros em sua trajetória. Do total, R$ 5 milhões foram para creators da Bahia.
“A agência tem influenciadores em Salvador e pretende reforçar isso por lá para valorizar a cultura local, principalmente por ser a cidade mais negra do Brasil”, diz Silvestre. Entre as marcas já atendidas estão Banco Neon, Pinterest, Nivea, Prime Video, Meta e L’Oréal.
Com sede em São Paulo (SP), a Black Influence ganha uma comissão por contratos fechados. “Geralmente, a marca nos procura e diz que precisa de um influenciador com certo perfil. Então, fazemos o mapeamento para encontrar a pessoa mais adequada”, explica. A agência tem um casting de 30 influenciadores prioritários. Caso nenhum deles se encaixe, outros são considerados.
“No caso de quem está no casting, são influenciadores trabalham com exclusividade com a Black Influence, então qualquer contrato relacionado a publicidade passa por nós”, diz Silvestre.
Em 2022, a empresa criou uma frente de consultoria. “Muitas vezes, esta é a nossa porta de entrada nos clientes. Primeiro desenvolvemos projetos internos em temas relacionados a diversidade e depois desenvolvemos uma campanha de comunicação”, afirma.
Silvestre fundou a Black Influence em agosto de 2019 depois de um burnout e de ter se frustrado com a falta de diversidade no setor publicitário. “Por mais que questões como a falta de diversidade possam parecer óbvias hoje, isso não era dito com frequência há cinco anos.
Ele logo percebeu que os influenciadores negros eram contratados para falar sobre diversidade e seus serviços eram mais solicitados no mês da Consciência Negra. Costumávamos falar que novembro era nosso Natal”, diz o empreendedor. Ao mesmo tempo, viu que as marcas pagavam menos para os creators pretos.
A percepção de Silvestre foi comprovada com a pesquisa “Black Influence, um retrato dos creators pretos do Brasil”, lançada em 2020 pela agência. O relatório baseado em respostas de mais de 760 criadores de conteúdo revelou que influenciadores negros eram mais contratados para falar sobre temas relacionados a racialidade. Os dados também mostraram que eles recebiam cachês menores — mesmo com base e engajamento similares aos de pessoas brancas.
A partir disso, a agência passou a definir ações prioritárias, como estimular a contratação de influenciadores negros para falar sobre qualquer assunto. “Também explicamos a importância de a marca ser consistente nessas comunicações e trabalhar esses temas ao longo do ano. Contratar influenciadores negros apenas em novembro pode trazer resultados negativos, já que as pessoas estão prestando atenção a negócios que estão apenas surfando na onda da diversidade e não se preocupam de verdade”, afirma.
Também fortaleceu a argumentação. “Nosso objetivo é proporcionar valorização financeira. Sempre que temos dificuldade na negociação, explicamos o nosso propósito e trabalhamos a conscientização da importância de contratar influenciadores negros com o valor adequado.”
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Caminho certo, com obstáculos
Na visão do empreendedor, as marcas estão mais abertas hoje do que no início do negócio. O caminho, porém, ainda tem obstáculos. “A morte de George Floyd [homem negro morto durante uma abordagem policial nos EUA], em 2020, trouxe uma discussão muito importante sobre racialidade, mas vimos o debate esfriar ao longo do tempo. O desafio tem sido continuar mostrando essa relevância.”
Um dos motivos para isso, na visão de Silvestre, é que as marcas têm dificuldade de trabalhar mais de uma pauta ao mesmo tempo. “Por exemplo, se em um ano elas falaram de Consciência Negra, no ano seguinte elas falarão de orgulho LGBT ou do meio ambiente”, diz. Nosso objetivo é também mostrar que é possível falar de diversidade de forma ampla, sem excluir uma pauta para escolher outra.”
Segundo o empreendedor, o ano de 2023 e o primeiro semestre de 2024 foram especialmente desafiadores, mas a tendência é um aquecimento neste segundo semestre. “Não sei se esse aumento está relacionado à proximidade com novembro. O mercado funciona de maneira complexa, e podemos ter muitos convites de uma vez ou nenhum. Mas acredito que seja o volume de eventos neste momento.”
Para os próximos cinco anos, o Silvestre torce por um cenário em que não seja preciso bater na tecla de que influenciadores negros podem comentar sobre assuntos diferentes. “Quero ver um amadurecimento do mercado em que a diversidade já será normalizada em todas as campanhas, sem a necessidade de cobrança e insistência sobre essa responsabilidade.”
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