Autônomos: veja como contruir um negócio saudável e lucrativo sendo profissional liberal


Dicas envolvem estudar e estruturar ações de marketing para se estabelecer no mercado, fazer networking para ampliar a carteira de clientes, encontrar sistemas de gestão para registrar atendimentos e organizar recebimentos e pagamentos. No primeiro trimestre do ano, milhares de pessoas de áreas como arquitetura, contabilidade, corretagem de imóveis, direito, educação física, engenharia, medicina, nutrição, odontologia e psicologia desembarcam no mercado. São profissionais liberais recém-formados no ensino técnico ou superior, que saem com bagagem teórica do campo de estudo, mas que dificilmente recebem nas escolas e nas faculdades bases sólidas para dar os primeiros passos no mundo do empreendedorismo.
Somam-se a 3,7 milhões de brasileiros que respondem a um conselho de classe para exercerem legalmente suas atividades, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), elaborados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). E têm, diante de si, a oportunidade de começar a atuar – e os desafios de ter um negócio próprio e de lidar com as angústias inerentes ao início de carreira.
Ou seja, será preciso encarar tanto o trabalho técnico quanto a gestão financeira e o marketing, afirma Fabiana Pincelli Santos, consultora de negócios do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-SP). Para isso, ela sugere: “[Essas pessoas] têm que planejar a semana entre o trabalho técnico e o de administração. O ideal é dedicar pelo menos um dia da semana para a gestão”.
E o que isso implica? Estudar e estruturar ações de marketing para se estabelecer no mercado, fazer networking para ampliar a carteira de clientes, encontrar sistemas de gestão para registrar atendimentos, organizar recebimentos e pagamentos. Paralelamente, significa também continuar se aperfeiçoando na área escolhida.
Prestação de contas
Em relação a tributos, impostos e prestação de contas, quem é profissional liberal vai se deparar com duas opções: trabalhar como pessoa física ou jurídica. No primeiro caso, tudo é atrelado ao CPF, incluindo as possíveis contratações e a emissão de recibos que comprovem o pagamento dos clientes.
O Imposto sobre Serviços (ISS) deverá ser pago conforme as regras do município em que a pessoa atua – em São Paulo, por exemplo, o pagamento é trimestral. Para o Imposto de Renda, será preciso fazer o recolhimento por meio do Carnê Leão.
Esse modelo é indicado para profissionais liberais que têm faturamento mensal de até R$ 10 mil, com gastos mensais de R$ 3 mil, segundo Lucélia Farias da Silva, diretora técnica da Confirp Contabilidade. “Não há limite para emissão de recibos, mas eles começam a ficar inviáveis quando o faturamento aumenta e a tributação deixa de compensar”, explica.
A partir desse valor, a solução é ter um CNPJ. Vale optar por Empresário Individual (EI) e Sociedade Limitada Unipessoal (SLU), bem como por Sociedade Limitada (LTDA). Especialistas podem indicar individualmente a melhor opção, caso a caso.
Não é possível, contudo, criar a empresa com base na figura jurídica do Microempreendedor Individual (MEI), em que empreendedores trabalham por conta própria e têm faturamento anual de até R$ 81 mil por ano. A legislação não inclui as atividades exercidas por profissionais liberais nesse modelo.
Com o faturamento maior, a criação de um CNPJ é apenas uma das mudanças. O desafio é também expandir as operações de forma estratégica, dentro da capacidade de retorno do empreendimento. “O plano de negócio é fundamental para organizar o crescimento sustentável da empresa”, explica a consultora do Sebrae-SP.
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Começar de novo
No caso de profissionais liberais que estão ingressando em uma segunda carreira, Santos destaca que a rede de contatos da primeira profissão é a bagagem mais valiosa que a pessoa deve levar para a nova fase, seja empreendendo, seja prestando serviços.
Aproveitar a experiência da atividade anterior para segmentar a empresa dentro da nova área de atuação também pode ser uma oportunidade – como um contador que se forma em Direito e abre um escritório de Direito Tributário.
“O ideal é entrar em contato com clientes, colegas de trabalho e líderes da carreira passada e contar sobre sua transição profissional, pelo menos três meses antes de se lançar ao mercado. Nem todas as mensagens geram negócios, mas a comunicação é importante para a rede saber que você tem um novo projeto”, reforça a consultora do Sebrae-SP.
Quem é profissional liberal?
É a pessoa com formação técnica ou superior regida por um conselho de classe, que pode exercer com liberdade e autonomia a sua profissão. Vale empreender ou ter vínculo empregatício para atuar na área. Quem se enquadra nesse escopo deve pagar uma anuidade e responder a um conselho profissional – a exemplo do CRM (Conselho Regional de Medicina) e da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) – para exercer legalmente suas atividades.
Remuneração desigual
As mulheres que são profissionais liberais e atuam por conta própria têm rendimento médio 26,16% inferior ao dos homens. Enquanto elas ganham, em média, R$ 4.924,31, eles recebem R$ 6.670,55, apontam dados da PNAD elaborados pelo Dieese.
“Existe quem prefira trabalhar menos para acomodar a profissão à vida pessoal”, afirma Lúcia Garcia, economista do Dieese. Essa divergência na remuneração se deve também às diferenças entre as carreiras consideradas femininas e masculinas e ao maior percentual de homens em profissões liberais.
Maria de Fátima Antunes, diretora da Confederação Nacional das Profissões Liberais (CNPL), sugere que as empreendedoras participem de forma ativa de discussões sobre igualdade de gênero. “A mulher está se reinventando, se qualificando e mostrando que pode ocupar posições iguais ou melhores que os homens.”
Fontes: Dados da PNAD elaborados pelo Dieese e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP-MEC)

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Espaço físico
CRESCIMENTO – A educadora física Patrícia Bueno começou com a sublocação de uma sala e hoje tem sua academia de pilates no ABC paulista
Colagens: Ile Machado

O empreendedorismo surgiu na vida da educadora física Patrícia Bueno, 46 anos, em um momento de fragilidade: quando ela perdeu o emprego e descobriu estar grávida. Sem dinheiro para investir em um negócio, sublocou uma sala de 25 m² em uma academia para mulheres, em 2012, e financiou os primeiros aparelhos para dar aulas de pilates.
Conhecida no ramo de educação física, ela divulgou o Studio Patrícia Bueno com apoio de colegas e fortaleceu o engajamento na região do ABC paulista pelas redes sociais. A parceria com a escola de ginástica também contribuiu para a entrada de novos clientes e a indicação da modalidade pilates entre as mulheres.
No primeiro mês, a empreendedora conseguiu pagar o aluguel de todos os equipamentos e retirar um pró-labore. “Os clientes que frequentavam a academia iam para o meu estúdio também. E assim começou o boca a boca.”
Em dois anos, o espaço passou a ficar pequeno e a sublocação deixou de fazer sentido, uma vez que o contrato previa o pagamento de 30% da receita de cada cliente à locadora. A empresa, então, foi transferida para uma sala independente, na mesma região, com 100 m² e capacidade para receber 12 clientes. Na anterior, de 25 m², ela atendia no máximo três pessoas por hora.
No processo de profissionalização do estúdio, Bueno também contratou sistemas tecnológicos, como softwares para fluxo de caixa e cobrança de mensalidades. Buscou ainda orientação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP).
Hoje, a academia tem 140 m², 20 aparelhos de pilates e uma equipe de seis funcionários para atender 200 clientes. Em 2023, faturou R$ 380 mil. A projeção para este ano é chegar a R$ 500 mil. Nos planos da empresária, há uma nova expansão. “Pretendo mudar para um galpão, um espaço maior e adaptado para receber pessoas com deficiência”, antecipa.
O QUE ANALISAR
Necessidade
O ponto físico é essencial para a criação de um negócio? Se a resposta for não, Caline Migliato, professora do curso de administração da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), sugere começar virtualmente e, se necessário, ter um espaço quando a empresa já estiver estabelecida.
Custo
Planejar custo mensal com ponto comercial é fundamental para não dar um passo além da capacidade do negócio. Dados do Índice FipeZap mostram que o valor médio do metro quadrado de imóveis comerciais para aluguel no país, em janeiro, foi de R$ 42,56/m², sendo São Paulo a cidade com valor médio mais alto, R$ 50,90/m².
Planejamento
O aluguel de um espaço físico deve estar inserido no plano de negócios. Ou seja, deve ter um objetivo e fazer parte de uma estratégia. Sem estar integrado a esse projeto, pode se tornar uma despesa a mais e não gerar nenhuma vantagem para a empresa.
Localização
O espaço físico tem que estar localizado onde o seu público-alvo frequenta, aconselha Fabiana Pincelli Santos, consultora do Sebrae-SP. Ela exemplifica: “Uma empresária do ramo de padaria artesanal online pediu ajuda para abrir uma loja: disse a ela que o ideal seria alugar um imóvel em uma região nobre por conta do tipo de produto [premium] que ela vende”.
Marketing
MUSEU DE SORRISOS – O planejamento da dentista Renata Barbosa e de suas quatro sócias incluiu contratação de agência de branding e investimento em redes sociais
Colagens: Ile Machado
O que dentes têm a ver com artes? Para a cirurgiã-dentista Renata Barbosa, 41 anos, tudo. Sócia da D’Arte Odontologia, ela acredita que, para transformar o sorriso e a autoestima das pessoas, os profissionais de saúde bucal fazem um trabalho artesanal e personalizado, esculpindo moldes, criando modelos 3D e polindo dentes.
Inaugurada em dezembro de 2022 em Salvador (BA), a clínica utiliza o conceito artístico para acabar com o medo e o desconforto das pessoas nos consultórios odontológicos. Ela e outras quatro dentistas investiram R$ 90 mil em equipamentos, produtos de última geração e decoração para criar um ambiente aconchegante, diferente dos consultórios tradicionais. Durante o tratamento, por exemplo, os pacientes recebem uma manta, um spray anestésico (além da anestesia local) e podem assistir à TV.
“Há uma geração de pessoas com muito medo de ir ao dentista porque sentiu dor, não teve a anestesia certa ou teve dentes perdidos, mas hoje a gente dispõe de tecnologia para oferecer conforto aos clientes. Recebi um paciente que fazia psicoterapia para poder ir ao dentista. No primeiro atendimento com a gente, ele foi sedado. Nos demais, ele conseguiu permanecer acordado”, afirma Barbosa, que é especialista em periodontia.
Para fazer jus ao nome, a D’Arte montou uma exposição aberta ao público e uma galeria de sorrisos, com fotos dos dentes dos pacientes ao final do tratamento. A ideia de associar a clínica a esse conceito foi trabalhada pelas sócias em parceria com uma empresa local de branding. “Quando a gente faz as fotos, muitos pacientes se emocionam e contam que alguém da família não teve condições de realizar um tratamento dentário e perdeu os dentes quando jovem”, diz ela.
No primeiro ano da clínica, o faturamento foi de R$ 800 mil. Para 2024, as metas são dobrar a equipe, hoje composta por oito funcionários, e atingir uma receita média mensal de R$ 400 mil. Para isso, há investimento de R$ 6 mil ao mês em marketing para a captação de clientes, com ações como vídeos profissionais em rede social, informativos para clientes e posts patrocinados. “Nossa meta é aumentar a margem de lucro e fazer a empresa crescer.”
O QUE ANALISAR
Redes sociais
Elas são os principais canais para divulgação de produtos e serviços de pequenas empresas. A mais utilizada atualmente é o Instagram, mas há negócios que também podem gerar engajamento no LinkedIn, no Facebook e no X. O ideal é começar com ações regionais e, sempre que possível, investir em posts patrocinados, aconselha Migliato, da ESPM.
Plataformas segmentadas
Além das redes sociais, existem plataformas específicas para divulgação do trabalho de profissionais qualificados, como arquitetos, médicos e psicólogos. Essas ferramentas funcionam como uma espécie de portfólio virtual, que pode ser anexado às redes sociais e ao site do empreendedor, acrescenta a professora.
Reserva financeira
O investimento em marketing deve ser constante. Para isso, é fundamental reservar, em média, 10% do faturamento mensal para essa finalidade e planejar as ações de acordo com o plano de negócios da empresa. “O horizonte precisa estar claro: a forma como eu vou me comunicar depende de onde eu quero chegar e em quanto tempo”, afirma Samantha Mazzero, da Fundação Instituto de Administração (FIA).
Proposta de valor
Seu produto ou serviço possui diferenciais? Destaque-os. Desenvolva uma proposta de valor para sua empresa e seja convincente ao comunicá-la para o público. “Não existe manual para um marketing de sucesso, mas a dica é ter clareza no que vai ser vendido e fazer o produto ter valor”, sintetiza a especialista.
Organização financeira
TUDO CALCULADO – A contadora Juliana Lourenço foi de uma quase falência à projeção de faturamento de R$ 1 milhão em 2024
Colagens: Ile Machado
A contadora Juliana Lourenço, 40 anos, trabalhou como analista contábil em grandes empresas por uma década, até decidir “crescer por conta própria” oferecendo mentorias às mulheres sobre organização financeira e empreendedorismo. Em 2014, lançou a Conta Mais.
Para estudar seu público-alvo e divulgar seu trabalho, realizou palestras abertas por meio de parcerias com livrarias, fotógrafos e donos de bufês. Em cinco meses, a carteira da consultoria subiu para 45 clientes. Ela deu um passo maior: abriu um escritório físico e contratou secretária e contadores.
“Tinha um custo muito alto, e acabava não olhando as contas porque elas chegavam e eu já pagava. Quando um cliente grande atrasou o pagamento por um mês, eu atrasei o aluguel. As dívidas começaram a virar uma bola de neve”, lembra.
Sem dinheiro para pagar aluguel e funcionários, a empreendedora transferiu a empresa para uma sala pequena em um prédio comercial e passou a trabalhar apenas com o marido. Para ajudar nas contas, sacou o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) inativo, liberado pelo ex-presidente Michel Temer em 2016. “A carteira estava inflada. Eram muitos clientes para pouco dinheiro. Diminuímos 60% do faturamento.”
Após estudar educação financeira, a empreendedora aprendeu que obter conhecimentos em gestão é indispensável. Os principais erros que afirma ter cometido foram realizar apenas palestras gratuitas, receber pagamentos na conta de pessoa física, fazer retiradas de dinheiro não planejadas e investir além da capacidade por ansiedade.
Com dez anos recém-completados, a Conta Mais se reestruturou após beirar a falência e hoje atua em formato virtual. A contadora passou a cobrar cerca de R$ 5 mil para se apresentar em empresas e eventos, e separa até 7% do faturamento para reinvestimento.
No ano passado, Lourenço abriu também uma assessoria contábil, a Conta Delas. As duas empresas têm 112 clientes e quatro funcionários remotos. Com estratégias digitais, equipe de vendas e eventos presenciais, ela trabalha para o faturamento do grupo Conta Mais Soluções passar de R$ 420 mil em 2023 para R$ 1 milhão neste ano.
O QUE ANALISAR
Conta jurídica
É fundamental criar uma conta jurídica para o dinheiro da empresa e organizar o fluxo de caixa, indica Mazzero, da FIA. Além de garantir que apenas os recursos do negócio sejam usados para custear despesas e investimentos, uma conta corporativa pode oferecer vantagens e benefícios para empreendedores, dependendo da instituição financeira.

Precificação
Para colocar preço em seus produtos ou serviços, calcule todos os custos envolvidos na produção, como fornecedores, conta de água, energia e telefonia e impostos. Também é necessário avaliar o quanto é cobrado por seus principais concorrentes, a sensibilidade de seus clientes ao preço e o valor percebido do produto/serviço, ou seja, o impacto oferecido ao público, segundo o Sebrae-SP.
Previsibilidade
Ter projeções financeiras e uma ideia do período que está por vir ajudam empreendedores a tomar decisões eficazes em momentos de dificuldade e a planejar um crescimento sustentável. A análise de curto prazo é feita mês a mês para prever o ano, enquanto a de longo prazo é feita anualmente para o próximo triênio do negócio, explica Mazzero.
Reinvestimento
Reserve de 15% a 30% do lucro líquido para reinvestir no negócio e torná-lo mais competitivo. Com dinheiro guardado, exemplifica Migliato, da ESPM, é possível planejar a expansão da empresa, a contratação de funcionários, a criação de um novo produto ou serviço e a divulgação da marca nas redes sociais.
Leia também
Parcerias
COLETIVO – A arquiteta Karol Rosa Almeida costurou alianças com a comunidade e com ONGs para levar seu trabalho a mais pessoas
Colagens: Ile Machado
Natural de Restinga, bairro periférico de Porto Alegre, Karol Rosa Almeida, 29 anos, entrou no curso de arquitetura e aprendeu técnicas avançadas. Só não podia visualizar esse conhecimento aplicado onde morava, tampouco na própria casa que, na época, mal tinha reboco. “A faculdade era muito elitista. Não tive base para trabalhar com arquitetura popular. Meu conhecimento veio por experiência prática.”
Formada aos 25, a jovem se lançou ao mercado com os desafios de morar distante do centro e criar um filho pequeno. Não teve sucesso. Montou, então, em 2020, a Kopa Coletiva, de arquitetura popular. “Decidi me posicionar a favor da causa social, e muita gente começou a se identificar comigo. Quando pessoas iguais a mim, periféricas, passaram a pedir orçamentos, foi uma virada de chave”, orgulha-se.
Em dois anos, recebeu o apoio da Habitat para a Humanidade Brasil, ONG de promoção da moradia como direito fundamental, e da Plataforma Vivenda, que permite a colaboração entre atores da construção para o mercado de reforma popular.
Importantes na articulação de projetos, essas parcerias ampliam o acesso de famílias em vulnerabilidade social a melhorias habitacionais. Ela também busca colaboração com pequenos negócios de Restinga para o fornecimento de materiais, equipamentos e mão de obra. O objetivo é fomentar a economia local a partir da premissa de que, gerando negócios no bairro, todos são beneficiados.
O projeto da arquiteta chamou a atenção de investidores. No ano passado, recebeu capital semente de R$ 15 mil. O dinheiro será utilizado para a contratação de uma estagiária.
Com faturamento de R$ 250 mil ao ano, a empresa já impactou mais de 400 pessoas e realizou 80 projetos acessíveis. A empreendedora planeja capacitar mão de obra, principalmente feminina, e elaborar um projeto de reutilização de materiais de construção civil. “Nunca fui sozinha. A Kopa é coletiva, tem toda uma estrutura que não é interna, mas que é fundamental para o negócio andar.”
O QUE ANALISAR
Objetivos
Antes de buscar parceiros, é preciso estabelecer os objetivos da empresa e mapear quem poderia ajudar a conquistá-los. Karen Yoshida, da Trevisan Escola de Negócios, alerta: “Nem toda parceria é vantajosa. Associar-se a uma marca com histórico ruim pode trazer prejuízo ao negócio”.
Complementariedade
Busque quem ofereça produtos ou serviços complementares ao de seu negócio. Uma academia de ginástica, por exemplo, pode se associar a uma clínica de nutrição. A parceria entre pequenas empresas, afirma Santos, do Sebrae-SP, é vantajosa para todos os envolvidos e fomenta o empreendedorismo.
Networking
Eventos setoriais, feiras comerciais e grupos de empresários são espaços para troca de contatos e conhecimentos. Vale aproveitar a oportunidade para apresentar sua empresa e tirar dúvidas com especialistas. Caline, da ESPM, lembra que “empreender é algo muito solitário, por isso as parcerias são fundamentais para o sucesso da empresa”.
Fornecedores
Desenvolva parcerias com fornecedores e distribuidores para garantir acesso a matérias-primas/serviços de qualidade dentro do prazo e expandir sua rede de distribuição. “As duas empresas fidelizam clientes e garantem bons resultados no final do mês”, explica Mazzero, da FIA.
Qualificação
CONCEITO – A endocrinologista Eliane Oliveira Dias desenvolveu protocolos de tratamento a partir de suas pesquisas e os usa em sua clínica multidisciplinar
Colagens: Ile Machado
No plano de carreira da endocrinologista Elaine Oliveira Dias, 44, investir em qualificação nunca é demais. Formada em medicina pela Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, fez doutorado em endocrinologia e metabologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e aperfeiçoou o inglês na Universidade de Oxford, na Inglaterra.
Além de trabalhar como pesquisadora, abriu uma clínica com seu orientador, em 2014. A parceria foi bem-sucedida e durou quase dez anos, até que ela teve o desejo de alçar voo-solo. Em 2023, criou a Elaine Dias JK Health & Beauty, na rua Oscar Freire, em São Paulo, clínica para emagrecimento saudável com conceito de spa. O investimento inicial foi de R$ 1,5 milhão.
Para se diferenciar, desenvolveu um método, durante seus estudos acadêmicos, que inclui aminoácidos, massagens corporais e lactobacilos para a flora intestinal. “Dentro do programa, oferecemos um exame de epigenética em que eu avalio as influências externas na genética do paciente. Dessa forma, consigo manipular as manifestações e aflorar mais os genes positivos para o emagrecimento”, explica a médica, destacando a importância de sua pesquisa para a credibilidade da empresa.
Com foco no público feminino de classe média alta, a clínica também oferece consultas com nutricionista, esteticista, dermatologista e ginecologista. O objetivo é que os pacientes tenham um tratamento multidisciplinar. Ao todo, são 12 profissionais contratados e uma carteira de 3,1 mil pacientes.
Em seu primeiro ano de funcionamento, registrou R$ 2,5 milhões em faturamento. A expectativa para este ano é de R$ 3 milhões. Para os próximos, a empreendedora pretende abrir uma nova vertical para tratamentos capilares, o que exigirá a mudança de endereço da clínica, já que hoje o espaço está totalmente ocupado. “Por enquanto, vou ampliar o programa de emagrecimento e contratar mais nutricionistas, porque o projeto está trazendo resultados e os pacientes estão gostando muito.”
O QUE ANALISAR
Objetivos
Estudar nunca é demais. Mas se o objetivo for gerar retorno ao negócio, o ideal é analisar se o curso agrega valor a algum produto ou serviço da empresa. Também é importante calcular se o montante gasto em qualificação foi recuperado. Afinal, todo dinheiro investido no negócio deve voltar ao caixa, afirma Yoshida, da Trevisan.
Credibilidade
Empreendedores bem qualificados trazem consigo uma sólida experiência e um bom conhecimento em sua área de atuação. Esse currículo gera confiança entre os funcionários e credibilidade aos clientes, investidores e parceiros comerciais. Segundo a especialista do Sebrae-SP, a trajetória profissional da equipe também é um diferencial competitivo e deve ser destacada pela empresa.
Cursos
Existem cursos que capacitam pequenos empreendedores para o mundo dos negócios – alguns deles gratuitos. Para mulheres, o Sebrae, por exemplo, conta com um programa para incentivo do empreendedorismo feminino, o Sebrae Delas. Nos últimos sete anos, 14 milhões de mulheres foram atendidas.
Mentorias universitárias
Universidades de negócios de todo o país oferecem mentorias para atender pequenas empresas em parceria com os alunos dos cursos de administração e de MBAs. Em algumas instituições, destaca Yoshida, os empreendedores podem até apresentar seus projetos ao público para firmar parcerias e obter investimentos.
Segmentação
ORIGEM VEGETAL – A nutricionista Carolina Silva mirou a alimentação vegana para abrir sua clínica de nutrição, que fatura R$ 10 mil por mês
Colagens: Ile Machado
Uma viagem de férias para Morro de São Paulo (BA), em 2019, mudou a vida da nutricionista mineira Carolina Silva, 36 anos. Imersa em discussões sobre a preservação da Amazônia na pousada em que estava hospedada, decidiu se tornar vegana e empreendedora.
Para concretizar os planos, fez uma pós-graduação na área. Também separou parte do salário que recebia no hospital em que trabalhava para montar a empresa. Com R$ 20 mil de investimento inicial, ela deixou o emprego em janeiro do ano passado e lançou o consultório virtual Carol Silva NutriVeg. “Não tive tempo de descansar. Aproveitei que as pessoas estavam engajadas em mudar a alimentação no começo do ano e comecei a trabalhar.”
Com um público majoritariamente feminino e jovem, a nutricionista utiliza as redes sociais para divulgar seu trabalho, destinando por volta de R$ 250 ao mês a posts patrocinados. Na internet, a empreendedora conta as vantagens e os desafios de ter uma alimentação vegana com base em sua própria experiência.
O modelo de comunicação, segundo Silva, tem atraído seguidores que se identificam com a realidade dela e interessados em iniciar uma dieta livre de ingredientes de origem animal. “As pacientes do meu programa nutricional recebem acompanhamento por quatro meses, com acesso ao meu WhatsApp e diário alimentar para registro das fotos das refeições para dar meu feedback semanal”, explica.
O NutriVeg conta atualmente com 155 clientes e tem um faturamento médio mensal de R$ 10 mil. Para impulsionar o crescimento, ela pretende contratar um funcionário para auxiliá-la na organização das demandas e gravar cursos que possam ser oferecidos concomitantemente às consultas. A ideia é que a empresa gere faturamento sem que a nutricionista precise estar ao vivo no computador. “Eu preciso de tempo para a gestão, para avaliar o meu negócio e ver onde preciso melhorar. Trabalho com a saúde das pessoas, e esse é o maior valor que tenho dentro do consultório”, diz.
O QUE ANALISAR
Público-alvo
Conheça quem é a pessoa para quem você vai vender: entenda necessidades, desejos e comportamentos. Quanto mais você estudar seu segmento de mercado, melhor poderá atendê-lo. Para quem está começando e não pode contratar uma pesquisa, vale ir para a rua conversar com os potenciais clientes, sugere Migliato, da ESPM.
Diferenciais
Quando um consumidor busca uma empresa segmentada, ele está visando a algo diferenciado, com valor agregado. Para quem está começando, a consultora do Sebrae-SP sugere fazer uma pesquisa entre os concorrentes para ver o que é oferecido e pensar em soluções diferenciadas e de baixo custo: “O erro é frustrar a expectativa do cliente”, diz.
Qualidade
A qualidade de um produto/serviço é fundamental para a fidelização de clientes em qualquer empresa. Imagine, então, em negócios segmentados? Uma dica é testar seus produtos ou serviços com colegas e aprimorá-los antes de oferecê-los ao público. Críticas são sempre bem-vindas e o melhor é recebê-las de forma positiva, aconselham as especialistas.
Grupos setoriais
Uma vez segmentado, é importante manter contato com outras empresas do ramo para conhecer novos produtos, serviços e tendências do setor. Santos, do Sebrae-SP, destaca que comunidades e grupos setoriais também compartilham informações sobre o mercado e as necessidades dos clientes.

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