Afro Cubo Day discute busca por aportes, boas conexões e oportunidades internacionais
Cubo Itaú realizou evento voltado para a diversidade racial nesta sexta-feira (6/12), na cidade de São Paulo Preparar-se bem e criar modelos sólidos de negócios para buscar investimentos. Criar boas relações — pessoais e profissionais — que gerem parcerias estratégicas. Buscar oportunidades em mercados internacionais além dos Estados Unidos e Europa. Estas foram algumas das estratégias para que os afroempreendedores consigam acelerar seus negócios discutidas durante a segunda edição do Afro Cubo Day. O evento voltado para a diversidade racial e realizado pelo Cubo Itaú, aconteceu nesta sexta-feira (6/12), na cidade de São Paulo, e reuniu 200 pessoas.
Em relação à busca por investimento, a conclusão é que os empreendedores precisam estar bem preparados em diferentes aspectos para captar recursos. Segundo Renato Ferraz, fundador da Easy B2B, isso passa por uma mudança de mentalidade. “O mercado ainda está maturando e é difícil se provar como black founder, também pela falta de exemplos que conseguiram acessar esse capital. Primeiramente é preciso trabalhar em si e modificar muitos pensamentos de pertencimento. Você tem o direito de frequentar esses lugares”, afirma.
Se preparar para entrar no ecossistema de venture capital é outro ponto essencial. “É preciso conhecer as regras para jogar o jogo”, diz André Nunes, managing director da nav9, que também atua como investidor-anjo. Ele recomenda que os empreendedores estudem para entender as terminologias de investimento, como tipos de captação e nomenclatura de rodadas, entre outros.
Nunes lembra que o cenário de investimentos mudou muito nos últimos dois anos — e que os investidores se tornaram mais responsáveis em como gastar dinheiro. “No meu caso, eu olho para fundamentos e modelos de negócios que estão bem estruturados. O fundador deve ter responsabilidade financeira para não queimar o dinheiro do investimento com qualquer coisa. Em 2020 e 2021, tivemos rodadas grandes, mas também casos em que as pessoas não sabiam como gastar”, afirma.
Depois de um período de escassez de capital, os cheques grandes têm chegado hoje com maior dificuldade. “No early stage, a régua ficou mais alta para as startups, que já precisam mostrar métricas e resultados”, afirma. “O empreendedor deve demonstrar a capacidade de execução em um novo horizonte, mostrando para o investidor que ele tem capacidade de operar entre R$ 10 milhões e 100 milhões. Uma empresa que está gerando caixa e que está ciente da dinâmica do mercado tem uma grande atratividade para captação.”
O discurso sobre o negócio deve estar na ponta da língua a todo momento, diz Amanda Graciano, CEO da CEO NOW. “O trabalho bem feito é o mínimo, mas não necessariamente vai levar a pessoa a outros níveis. Em um evento como este, é importante ter um pittch mais ou menos pronto, que explique o que o seu negócio faz em 30 segundos. Se um investidor de um dos maiores fundos do mundo estiver presente, você consegue explicar o que você faz e o que você precisa?”, questiona.
Saiba mais
Nunes lembra que há oportunidades de investimento e que o empreendedor precisa buscar opções no mercado. “O corporate venture capital (CVC) é relativamente recente no Brasil, mas muitas companhias fizeram esse movimento porque sabem que não podem resolver um problema e vão buscar uma startup. Procure programas abertos e coloque-se na frente das grandes empresas para apresentar suas soluções”, afirma.
Por fim, ele diz que o empreendedor deve sempre pensar em alternativas caso não receba investimento — Nunes mesmo conta que já recebeu pelo menos 40 “nãos”. “Captar pode parecer a única solução, mas é preciso ter outras ideias. Às vezes temos a impressão de que receber investimento é a realidade da maior parte dos negócios, mas não é bem assim.”
Boas conexões
André Barrence, diretor Latam do Google Black Founders, afirma que aprendeu uma lição muito cedo: é preciso ter aliados para auxiliar outras pessoas a chegar em seu total potencial. “Qualquer relação genuína tem o poder de construir coisas incríveis. Banalizamos o tema de networking, e não considero que seja ‘working’ porque as relações que eu construo são para a minha vida”, afirma.
Para ele, criar boas conexões é um processo que precisa de frequência e intencionalidade. “Em um ecossistema, a moeda mais importante é credibilidade e confiança. As pessoas acham que tudo acontece imediatamente, mas a construção disso leva tempo”, afirma. Em sua visão, é possível começar com uma gentileza — por exemplo, pagar por um café — que depois pode se tornar uma relação que trará transações profissionais no futuro.
Já Douglas Vidal, CEO do Future in Black, acrescenta que as redes e conexões devem ser pensadas com objetivos específicos. “Você precisa olhar e pensar se aquilo ali está promovendo o resultado que espera. Quando olhamos para negócios e resultado, muitas vezes passamos por momentos desconfortáveis, com conexões que não são próximas em um nível pessoal, mas são genuinas. As pessoas têm objetivos diferentes na nossa vida e tudo bem. Não é se aproximar por interesse, é estar alinhada de maneira profissional”, afirma.
Ele diz que é possível criar métricas para entender se os relacionamentos estão tendo o resultado esperado. Por exemplo, se uma pessoa está buscando por um emprego e comunicou a sua rede, o retorno é saber quantas indicações teve e quantas entrevistas de emprego foram feitas.
Ferraz, fundador da Easy B2B, recomenda começar procurando pessoas que já empreenderam e são acessíveis. “A gente acha que é difícil, mas se você chega com brilho no olho e vontade de fazer, você vai conseguir 30 minutos daquele investidor para receber insights sobre a sua startup do melhor caminho a seguir.”
Fazer conexões com pessoas complementares é o conselho de Luana Ozemela, VP de Impacto e Sustentabilidade do iFood. Ela conta o seu próprio exemplo: após uma apresentação, sua mentora deu um feedback duro, dizendo que os dados apresentados eram muito técnicos e faltava a visão pessoal de Ozemela.
“Ela foi uma aliada que despertou algo em mim. Ela é uma mulher branca, de classe média alta, judia, do setor financeiro Muitas vezes, a gente se limita às nossas bolhas, e não nos permitimos ter essa visão ampliada de mundo”, afirma Ozemela, que decidiu seguir os conselhos da profissional.
Internacionalização além dos EUA e da Europa
Observar oportunidades fora do país também é uma das recomendações de Ferraz, da Easy2B, que captou investimento nos Emirados Árabes para a sua startup. “O acesso a capital em valores mais altos é escasso. Mesmo quando a captação ocorre no Brasil, os grandes cheques de rodadas B e C são de fundos internacionais”, afirma o empreendedor. O seu conselho é buscar oportunidades em países que estão ganhando espaço no ecossistema mundial.
“O Vale do Silício sempre será o Vale, mas existe movimento em outros lugares, como Miami, Austin e Estônia. Não é indicado ir no líder de mercado, mas no terceiro ou quarto colocado, porque é a região que quer crescer para ser o primeiro daqui a cinco ou 10 anos”, diz Ferraz, que exemplificou com a sua própria trajetória. “Entendi que tinha que sair da América Latina, e viu que o Emirados Árabes era um lugar que fazia sentido por estar no meio do mundo, e muitas empresas estão criando escritórios na região. Quando eu cheguei lá, fiquei surpreendido com a quantidade de fomento e acesso a capital.”
Adriane Coimbra, head de programas da Djassi África, diz que o Brasil ainda se espelha muito no Vale do Silício, enquanto a África se espelha nos países europeus. “Nossa tese é parar de olhar para cima no mapa e olhar para o lado. Vamos nos conectar verticalmente”, afirma. “O Brasil tem muito mais a ver com vizinhos laterais do que com a Europa e os Estados Unidos. Temos muito potencial de levar nossos negócios para a África, com empreendedores que estão falando muito sobre fintech, climate e mobilidade. É uma grande oportunidade fazer negócios com startups africanas.”
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