Futebol de várzea vira aposta de pequenos empreendedores, que acompanham profissionalização


Em 2023, 57 milhões de camisas de times (de todos os tamanhos) foram vendidas no Brasil Não é só de gigantes do material esportivo que se faz o futebol. O esporte também impacta pequenos fabricantes de uniformes, que têm investido em tecnologia e profissionalização para acompanhar o desenvolvimento da várzea.
Em 2023, foram vendidas 57 milhões de camisas de times, de pequenas a grandes marcas, no Brasil. Foram R$ 4,8 bilhões na indústria e R$ 8,5 bilhões no varejo, de acordo com projeções de 2023 da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).
Há 2,4 mil empreendimentos de confecção de moda esportiva e fitness no país, também segundo a Abit. Uma parcela deles é dedicada à produção de uniformes de times de futebol amador masculinos e femininos.
Para entender como esse segmento prospera, conversamos com três empreendimentos. Veja as histórias a seguir.
Saiba mais
‘Nike da Várzea’
“O futebol de várzea está em uma crescente profissionalização, e as marcas precisam acompanhar esse desenvolvimento.” A observação é de Wesley dos Santos, gerente de desenvolvimento da Uniex, marca paulistana que existe há 12 anos. Segundo ele, antes restritos aos jogos nas periferias da região metropolitana de São Paulo, alguns clubes hoje pagam atletas, equipes multidisciplinares e transporte.
“Grandes empresas começaram a fazer parcerias com os torneios locais, o que aumentou a visibilidade do esporte amador”, analisa. “A Uniex foi criada debaixo de muito sol e chuva. A confecção começou indo para o campo todos os domingos e verificando se estava tudo certo com as peças e ouvia a necessidade dos clientes”, recorda Santos.
Modelos de camisas da Uniex
A Uniex — o nome da marca é a união das palavras “uniforme” e “expresso” — foi fundada por Renato Bezerra, que trabalhava em uma confecção de uniformes de serviços e recebeu de um amigo o pedido para produzir um uniforme para o time jogar aos finais de semana. Na época, as roupas esportivas personalizadas demoravam cerca de 35 dias para serem entregues. O proprietário viu então a oportunidade de fornecer mais rápido e com mais opções de personalização.
“Queríamos mudar a cara da várzea, fazendo modelagem e inovações inspiradas em times profissionais e marcas grandes. Um dos grandes diferenciais da Uniex é a arte. Os concorrentes não sabiam fazer artes personalizadas como a Uniex, e até hoje é assim. A gente até brinca que o cliente chega aqui com um sonho e realiza. Os times falam que a Uniex é a Nike da várzea”, afirma Santos.
Hoje a marca conta com 18 lojas espalhadas pela grande São Paulo e emprega 300 pessoas. São 80 produtos disponíveis, de agasalhos a bonés, para diversas modalidades. A empresa atende futebol americano, baseball, pesca e ciclismo, entre outros. O futebol concentra 85% da produção, segundo estima o gerente de desenvolvimento.
Fábrica de Cajazeiras
Desde 2013, a Fábrica dos Coletes produz camisas para os times de futebol de várzea de Salvador, na Bahia. A marca não tem loja, mas conta com uma planta fabril no bairro de Cajazeiras, na periferia da capital soteropolitana. Na cidade, o que domina o cenário esportivo são os “babas”, como são chamadas as “peladas” locais de futebol amador.
A história de Fábio Lopes, proprietário da Fábrica dos Coletes, se assemelha com a da Uniex. Ele trabalhava com moda praia até que um amigo pediu para que ele produzisse uniformes esportivos. Hoje, tem uma fábrica que pode produzir 400 peças diárias, com tecnologia de sublimação total, que faz tingimento e impressão com mais precisão, fruto de um investimento de R$ 200 mil em 2023.
Modelos de camiasas da Fábrica dos Coletes
“O principal desafio de empreender com futebol amador é acompanhar a criatividade do pessoal. Baiano é muito criativo, ele quer novas artes. Então, a gente tem todo dia buscar novas estampas e criar novos modelos junto com a equipe de criação”, conta. Ele também menciona como dificuldade o custo do transporte da matéria-prima, que vem principalmente do Rio Grande do Sul e de São Paulo, para Salvador. “E agora começou a chegar produto da China”, argumenta Lopes.
As regiões Sudeste, Sul e Nordeste, concentram a maior parte da produção de moda esportiva/fitness em volume no Brasil, com sendo responsáveis por 37,6%, 36,9% e 22,3%, respectivamente, segundo projeções da Abit.
Parte dos conhecimentos com a confecção de moda praia seguem sendo aplicados: os produtos da Fábrica dos Coletes contam com tecidos de proteção contra raios ultravioletas e não absorvem o suor. A qualidade dos itens não é motivo de insatisfação. “Não temos quase nada de inadimplência, quase não há reclamações. Às vezes o cliente fala que ficou apertado ou largo, a gente ajusta e devolve pro cliente. Queremos que o cliente fique super satisfeito. E realmente isso dá resultado na indicação do nosso trabalho para novos fregueses”, diz.
Peladão de Manaus
Na capital amazonense, o maior campeonato de futebol amador é o Peladão, que reúne cerca de 200 times e começa neste sábado (20/7). A marca SJ Sports é responsável por vestir grande parte das equipes locais. O empreendedor Lucas Oliveira, que fundou a marca há nove anos, conta que a empresa começou com a produção de camisetas estampadas para eventos. Desde 2020, está direcionada para o esporte.
A mudança se deu pela força do futebol amador local. Oliveira afirma que a final do Peladão reúne mais torcedores do que a disputa para o campeonato estadual profissional. Como a paixão do torcedor é grande, a SJ Sports tem que saber trabalhar cada um dos times.
Modelos de camisas da SJ Sports
“É uma responsabilidade lidar com a identidade das equipes de futebol. No profissional, temos o cuidado de respeitar a história do clube, a paixão do torcedor e qualidade que ele merece. Já no futebol amador, a gente trabalha com o sentimento do cliente que vem até a empresa com uma ideia de vestir algo bom e bonito. A nossa preocupação é fazer uma camisa em que o atleta se sinta profissional”, argumenta Lucas Oliveira.
O campeonato local de futebol amador dura cerca de quatro meses em disputas de jogo único, onde o perdedor é eliminado. Para manter o faturamento ao longo do restante do ano, a SJ Sports foca nos clubes profissionais da capital amazonense. Os uniformes de Manaus, Amazonense e Nacional, por exemplo, são produzidos pela marca.
Saiba mais

Source link